O ecofeminismo é uma corrente de pensamento que apareceu na Europa no último terço do século XX. Françoise d'Eaubonne, em 1974, utiliza pela primeira vez o termo ecofeminismo na sua obra "Le Feminism ou la Mort" para referir-se à capacidade das mulheres como impulsoras de uma revolução ecológica que ocasione e desenvolva uma nova estrutura relacional de gênero entre mulheres e homens, assim como entre a humanidade e o meio ambiente.
Antes da concepção do termo ecofeminismo por parte de d'Eaubonne, já se havia descrito na literatura feminista dos anos setenta uma conexão entre o ideário feminista e a ecologia, de onde se refletiam sociedades não opressivas para as mulheres, descentralizadas, não militarizadas e com um alto respeito pela natureza.
Não há somente uma definição de ecofeminismo, mas as ecofeministas concordam que a dominação das mulheres e a degradação da natureza estão fundamentalmente conectadas e os esforços ecológicos são portanto integrais ao trabalho de superar a opressão das mulheres.
Os objetivos primários do ecofeminismo não são os mesmos daqueles tipicamente associados ao feminismo liberal. Ecofeministas não procuram igualdade com os homens como tais, mas intencionam a libertação das mulheres enquanto mulheres.
"Cuidado com as mulheres quando se sentem enojadas de tudo o que as rodeia e se levantam contra o mundo velho. Nesse dia nascerá o mundo novo."
Louise Michel
Mulheres e natureza
Nas sociedades ocidentais as mulheres são tratadas como inferiores aos homens, a "natureza" é tratada como inferior à "cultura", e humanos são compreendidos como sendo separados, e frequentemente superiores, em relação ao ambiente natural.
Durante toda nossa história a natureza é retratada como feminina e as mulheres são frequentemente consideradas mais próximas da natureza do que os homens. A conexão fisiológica das mulheres com o nascimento e nutrição tem levado em parte a essa associação junto à natureza. O ciclo menstrual, que é ligado aos ciclos Lunares, é visto também como evidência da proximidade das mulheres com o corpo e os ritmos naturais. A imagem cultural da "mulher em período pré-menstrual" como irracional e superemocional exemplifica essa associação entre mulheres, o corpo, natureza e o irracional.
Ecofeministas focam nestas conexões, e analisam como elas degradam e oprimem tanto "mulheres" como "natureza".
Ecofeminismo acredita que a sociedade Patriarcal é construída em cinco pilares interligados: sexismo, racismo, exploração de classe, especismo e destruição ambiental. A análise ecofeminista revela que não são somente as mulheres que são representadas como sendo "mais próximas da natureza"; raças e classes sociais oprimidas também têm sido associadas junto à natureza.
"Gênero, classe, raça e natureza devem ser teorizados juntos se nós estamos finalmente nos movendo para além destas opressões... Ficando cientes de como a opressão se foca na corporificação nós podemos também teorizar outras opressões relacionadas, tais como aquelas contra pessoas idosas, deficientes e contra sexualidades alternativas. Então, o potencial para o ecofeminismo ser uma teoria de liberação radicalmente inclusiva é considerável." em ‘O que é Ecofeminismo?’
Especismo e Sexismo, qual a ligação?
As mulheres e os animais, junto com a terra e as crianças, têm sido vistos historicamente como a propriedade do cabeça masculino da família. O patriarcado (o controle masculino da vida política e doméstica) e o pastoreio (o cuidado dos rebanhos como forma de vida) apareceram no mesmo estágio histórico e não podem ser separados, porque ambos se justificam e são perpetuados com base nas mesmas ideologias e práticas.
Tanto as mulheres como os animais têm sido considerados historicamente menos inteligentes e mais próximos da natureza que os homens. Táticas como a objetificação, a ridicularização e o controle da reprodução foram e continuam sendo utilizadas para controlar e explorar tanto as mulheres como os animais.
Assim, o homem estabelece uma distância abismal entre si mesmo e a natureza, as mulheres e os animais, de modo que estes sejam objetificados, percebidos como consumíveis, como meios de produção, de entretenimento ou selvagens que foram ou precisam ser domesticados, a fim de servirem ao domínio do homem e de seu sistema opressivo.
Premissas do Ecofeminismo
A partir do ecofeminismo inicial, têm se desenvolvido diversas tendências influenciadas pela posição feminista da qual procedem (ecofeminismo radical, liberal, socialista), estabelecendo em cada uma delas suas próprias estratégias de atuação, ainda que os pontos principais nos quais se beseiam são os mesmos e se reduzem aos seguintes:
1. A ordem simbólica patriarcal estabelece por igual uma situação de dominação e exploração para as mulheres e para a natureza.
2. O patriarcado faz uso da biologia para situar as mulheres num plano de proximidade com a natureza, identificando-as com ela. Os homens, em oposição, se identificam com a razão, justificando desta forma a superioridade da razão sobre a natureza ou, o que é o mesmo, a superioridade do patriarcado; assim se explica que as mulheres sejam consideradas inferiores aos homens.
3. As mulheres estão numa posição vantajosa para acabar com a dominação patriarcal sobre a natureza e sobre si mesmas, dado que sua própria situação de exploração as faz estar mais próximas.
4. O movimento feminista e o movimento ecologista têm objetivos comuns e deveriam trabalhar conjuntamente na construção de alternativas.
O ecofeminismo radical insiste na vinculação entre as mulheres e a natureza, a um nível biosocial e histórico, assinalando que, em ambos os casos, a origem da exploração e da opressão provém da sujeição à ordem patriarcal estabelecida. O ecofeminismo liberal, embasa sua teoria no feminismo da igualdade e na teoria conservacionista da natureza. Estabelece que o modelo economicista implantado pelo homem não atende às repercursões perniciosas que este ocasiona sobre a natureza. Rechaça que as diferenças biológicas entre mulheres e homens levem a condutas distintas a respeito do meio ambiente. O ecofeminismo socialista fundamenta sua teoria em torno do patriarcado e do capitalismo, os quais responsabiliza pela exploração do meio ambiente para possibilitar o desenvolvimento econômico. O capitalismo tem proporcionado a técnica necessária em benefício dos homens, os quais tem dotado de instrumentos e meios de controle sobre as mulheres anulando sua intervenção na economia.
"O solo comum das várias escolas de ecologia social é o reconhecimento de que a natureza fundamentalmente antiecológica de muitas de nossas estruturas sócio-econômicas está arraigada no que Riane Eisler chamou de "sistema do dominador" de organização social. O patriarcado, o imperialismo, o capitalismo e o racismo são exemplos de dominação exploradora e antiecológica. O ecofeminismo poderia ser encarado como uma escola especial de ecologia social, uma vez que também aborda a dinâmica de dominação social dentro do contexto do patriarcado. Entretanto, sua análise cultural das muitas facetas do patriarcado e das ligações entre feminismo e ecologia vai muito além do arcabouço da ecologia social. As ecofeministas vêem a dominação patriarcal de mulheres por homens como o protótipo de todas as formas de dominação e exploração: hierárquica, militarista, capitalista e industrialista. Elas mostram que a exploração da natureza, em particular, tem marchado de mãos dadas com a das mulheres, que têm sido identificadas com a natureza através dos séculos. Essa antiga associação entre mulheres e natureza liga a história das mulheres com a história do meio ambiente, e é a fonte de um parentesco natural entre feminismo e ecologia. Conseqüentemente, as ecofeministas vêem o conhecimento vivencial feminino como uma das fontes principais de uma visão ecológica da realidade."
Fritjof Capra, em Rumo à Ecologia Profunda
sábado, 27 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Hetero-Patriarcado
O patriarcado sancionou como paradigma da normalidade social, psíquica e linguística o contrato (hetero)sexual: para se erigir a si mesmo como Sujeito o varão tem de construir a mulher como o Outro (quer dizer, desalojar as mulheres em direção à alteridade e mantê-las nessa posição). Nesta construção dicotômica o homem representa tanto o pólo positivo quanto o neutro e a mulher é somente o pólo negativo, mas também obviamente um signo exclusivamente heterossexual. A dualidade homem/mulher exclui a lésbica, torna-a impossível.
“Não é segredo que o medo e o ódio de homossexuais permeia a nossa sociedade. Mas o desprezo por lésbicas é distinto. Ele é diretamente enraizado na aversão à mulher autodefinida, a mulher autodeterminada, a mulher que não é controlada pela necessidade, imperativo, ou manipulação masculinas. Desprezo por lésbicas é mais frequentemente um repúdio político às mulheres que organizam-se em seu próprio interesse para conseguir presença pública, poder significante, integridade visível.”
Andrea Dworkin
O poder masculino se utiliza de inúmeros métodos para forçar a heterossexualidade às mulheres e mantê-las heterossexuais. Estes métodos formam um conjunto de forças que se estende desde a violência física até o controle de consciência, a fim de assegurar o direito masculino de utilização física, econômica e emocional das mulheres e assim sustentar o domínio do patriarcado. Entre os meios de coação, estão o o abuso sexual e o terrorismo das mulheres pelos homens – que são mantidos quase como que imperceptíveis e tratados como inevitáveis e naturais –, e logicamente, a invisibilização da possibilidade da lesbianidade.
“A suposição de que ‘a maioria das mulheres é naturalmente heterossexual’ coloca-se como um obstáculo teórico e político para muitas mulheres. Ela permanece como uma suposição convincente, parcialmente porque a existência lésbica tem sido escrita fora da história ou catalogada na categoria de doença; parcialmente porque ela tem sido tratada como excepcional em vez de intrínseca; parcialmente porque reconhecer que para mulheres a heterossexualidade pode não ser uma ‘preferência’ de qualquer maneira, mas algo que tem de ser imposto, controlado, organizado, propagado e mantido pela força é um passo imenso a tomar se você se considera livremente e ‘naturalmente’ heterossexual. Ainda a incapacidade de considerar a heterossexualidade como uma instituição é como a incapacidade de admitir que o sistema econômico nomeado capitalismo ou o sistema de casta do racismo é mantido por um conjunto de forças que compreendem tanto a violência física quanto a falsa consciência. Tomar o passo de questionar a heterossexualidade como uma ‘preferência’ ou ‘escolha’ para mulheres – e efetuar o trabalho intelectual e emocional que segue – chamará por uma qualidade especial de coragem em feministas identificadas heterossexualmente, mas eu penso que as recompensas serão grandes: uma libertação do pensamento, a exploração de novos caminhos, a quebra de um outro grande silêncio, nova clareza nas relações pessoais.” Adrienne Rich, "Heterossexualidade Compulsória e Existência Lésbica"
“Sem o abuso (hetero)sexual, o assédio (hetero)sexual e a (hetero)sexualização de cada aspecto dos corpos e comportamentos femininos, não haveria patriarcado, e qualquer outra forma ou materialização da opressão que possa existir, elas não teriam os contornos, limites e dinâmicas do racismo, nacionalismo, e assim por diante, que nos são familiares agora.
[...]
Uma parte vital de fazer o domínio masculino generalizado tão próximo do inevitável quanto uma construção humana pode ser é a naturalização da heterossexualidade feminina. Os homens têm criado ideologias e práticas políticas que naturalizam a heterossexualidade feminina continuamente em cada cultura desde o aparecimento dos patriarcados.
[...]
A heterossexualidade feminina não é um impulso biológico ou uma atração erótica ou conexão individual de uma mulher com outro animal humano que por acaso é macho. A heterossexualidade feminina é um conjunto de instituições e práticas sociais definidas e reguladas por (costumes, valores e leis patriarcais).”
Marilyn Frye, Willful Virgins: Essays In Feminism, 1976-1992 – Willful Virgins or Do You Have to Be a Lesbian to Be a Feminist?, Crossing Press, 1992, pp. 130-132
“Heterossexualidade é um costume obstinado no qual as instituições supremacistas masculinas asseguram sua própria perpetuação e controle sobre nós. As mulheres são conservadas, mantidas e contidas através do terror, violência e spray de sêmen. É proveitoso para nossos colonizadores confinar nossos corpos e alienar-nos de nossos próprios processos vitais, assim como foi proveitoso para os europeus escravizar os povos africanos e destruir toda memória de uma liberdade prévia e autodeterminação. Assim como a fundação do capitalismo ocidental dependeu do tráfico de escravos no Atlântico Norte, o sistema de dominação patriarcal se sustenta pela sujeição das mulheres através de uma heterossexualidade obrigada, compulsória. Sendo assim, os patriarcas têm de cultuar o par homem-mulher como algo 'natural', afim de manter as mulheres (e os homens) heterossexuais e obediantes, da mesma maneira que o europeu teve que criar o culto da superioridade caucasiana para justificar a opressão dos povos africanos. Frente a esse pano de fundo, a mulher que elege ser lesbiana vive perigosamente.” Cheryl Clarke, "Lesbianismo, um ato de resistência" in This Bridge Called My Back: Writing by Radical Women of Color
O amor por si mesma e por outras mulheres ainda é a maior afronta que alguém pode realizar frente ao mundo patriarcal. O amor entre mulheres e a lealdade feminina em todos os âmbitos são as maiores fontes de regeneração, empoderamento e união contra o (hetero)patriarcado e sua estratégia de dividir as mulheres para dominar. No contexto do (hetero)patriarcado, a lesbianidade compõe um complexo de resistências às várias formas de violência da dominação masculina e é um meio ideológico, político e filosófico de libertação de todas as mulheres da tirania heterossexual. Segundo Adrienne Rich, o ato de escolher uma amante ou companheira de vida representa um ataque direto e indireto à heterossexualidade institucionalizada que invisibiliza a possibilidade lésbica e garante o acesso masculino às mulheres. Mas para que a decisão erótica da lesbianidade complete seu conteúdo político em uma forma liberadora até as últimas consequências, ela deve aprofundar-se e expandir-se em uma identificação feminina consciente: um feminismo lésbico.
É fundamental que entendamos o feminismo lésbico em seu sentido mais profundo e radical, como é o amor por nós mesmas e por outras mulheres, o compromisso com a liberdade de todas nós, que transcende a categoria de “preferência sexual” e a de direitos civis, para voltar-se à uma política de formular perguntas de mulheres, que lutam por um mundo no qual a integridade de todas – não de umas poucas eleitas – seja reconhecida e considerada em cada aspecto da cultura.
Adrienne Rich, 1983.
O Poder do Macho
Em "O poder do macho", Heleieth Saffioti mostra que a discriminação contra a mulher e o negro no Brasil é socialmente construída para beneficiar quem controla o poder econômico e político. E o poder é macho e branco. A ensaísta, socióloga e advogada, mostra que esse processo baseia-se no patriarcado, no racismo e no capitalismo. Segundo ela, é o conjunto desses três sistemas que deve ser enfrentado, visando à construção de uma sociedade mais justa.
“Historicamente, o patriarcado é o mais antigo sistema de dominação-exploração. Posteriormente, aparece o racismo, quando certos povos se lançam na conquista de outros, menos preparados para a guerra. Em muitas destas conquistas, o sistema de dominação-exploração do homem sobre a mulher foi estendido aos povos vencidos. Com freqüência, mulheres de povos vencidos eram transformadas em parceiras sexuais de guerreiros vitoriosos ou por estes violentadas. Ainda na época atual isto ocorre. Quando um país é ocupado militarmente por tropas de outra nação, os soldados servem-se sexualmente de mulheres do povo que combatem... Desta sorte, não foi o capitalismo, sistema de dominação-exploração muitíssimo mais jovem que os outros dois, que ‘inventou’ o patriarcado e o racismo. Para não recuar demasiadamente na história, estes já existiam na Grécia e na Roma antigas, sociedades nas quais se fundiram com o sistema escravocrata. Da mesma maneira, também se fundiram com o sistema feudal. Com a emergência do capitalismo, houve a simbiose, a fusão, entre os três sistemas de dominação-exploração... Na realidade concreta, eles são inseparáveis, pois se transformaram, através deste processo simbiótico, em um único sistema de dominação-exploração, aqui denominado patriarcado-racismo-capitalismo.”
Heleieth I. B. Saffioti, 'O poder do macho'.
O patriarcado pode ser definido como o conjunto de relações sociais que tem uma base material e no qual há relações hierárquicas entre homens, e solidariedade entre eles, que os possibilitam a controlar as mulheres. Patriarcado é, pois, o sistema masculino de opressão das mulheres (Saffioti, 1999). No sistema patriarcal as mulheres são vistas como objetos de satisfação sexual dos homens, reprodutoras de herdeiros, reprodutoras de força de trabalho e reprodutoras de novas reprodutoras. Portanto, diferentemente dos homens como categoria social, a sujeição das mulheres, também enquanto grupo, envolve prestação de serviços sexuais aos seus dominadores/opressores.
"...a supremacia masculina perpassa todas as classes sociais, estando também no campo da discriminação racial. Ainda que a supremacia dos ricos e brancos torne mais complexa a percepção da dominação das mulheres pelos homens, não se pode negar que a última colocada na "ordem das bicadas" é uma mulher. Na sociedade brasileira, esta última posição é ocupada por mulheres negras e pobres." Heleieth I. B. Saffioti, 'O poder do macho'.
A supremacia masculina institucionalizada é uma constante social tão profundamente radicada que domina todas as outras formas políticas, sociais ou econômicas, gerando um estado de exclusão e discriminação social das mulheres pautado na crença da superioridade masculina. O poder do macho, embora apresente várias nuances, está presente nas classes dominantes e nas subalternas, nos contigentes populacionais brancos e não-brancos e também é legitimado por todas as grandes religiões. Assim, via de regra, a mulher é subordinada ao homem. Homens subjugados no campo do trabalho por uma ou mais mulheres detêm poder junto a outras mulheres através da relação amorosa/sexual. Uma mulher que, em decorrência de sua riqueza econômica, exerça domínio sobre muitos homens e mulheres, enquanto mulher deve sujeitar-se ao domínio de um homem, seja seu pai ou seu marido. Sujeição essa que, diga-se de passagem, nunca foi aceita passivamente pelas mulheres, que historicamente sempre resistiram à ela, mesmo que individualmente e/ou sem teorias e através de manifestações conscientes. Assim, para que a sujeição feminina ao poder do macho seja mantida e possa dar forma ao estado patriarcal no qual nos encontramos, este necessita da instauração de mecanismos de repressão afim de facilitar a acomodação às regras impostas e a aceitação dos mitos sociais cotidianamente reforçado(re)s da superioridade masculina e inferioridade feminina.
O despertar da consciência descobriu que uma forma da existência social do poder masculino está dentro das mulheres. Nesta forma, o poder masculino torna-se auto-inculcado. As mulheres tornam-se "objetificadas na cabeça". Uma vez encarnada, a superioridade masculina tende a reafirmar-se e reforçar-se no que pode ser visto tanto como no que pode ser feito. Assim, o poder masculino é e não é ilusório ao mesmo tempo. Em sua forma de justificar-se, ou seja, como algo natural, universal, inalterável, dado e moralmente correto, é ilusório, porém o feitio de que é poderoso não é nenhuma ilusão. O poder é uma relação social. Dados os imperativos das vidas das mulheres, a necessidade de evitar castigo – desde a rejeição de si mesma até a encarceração involuntária ou o suicídio – não é irracional que as mulheres se vejam de tal forma que sua submissão necessária resulte tolerável, inclusive satisfatória. Viver cada dia convence a todos, às mulheres e aos homens por igual, da hegemonia masculina, que dificilmente pode dizer-se que é um mito, e da inferioridade inata das mulheres e da superioridade inata dos homens, um mito que a repetição cotidiana faz difícil distinguir significativamente da realidade.
Catharine A. MacKinnon, 'Toward a feminist theory of the state'
O reforço contínuo do mito da fragilidade, docilidade e 'feminilidade', da necessidade da presença de uma figura masculina ‘forte’, o treinamento para a maternidade como necessidade fundamental da mulher, o bombardeio midiático da idéia de amor eterno que supera todos os obstáculos e perdoa a todos os conflitos, o culto à imagem que estabelece o embelezamento corporal como feminilidade e a moral religiosa para o controle do corpo e da sexualidade danificam continuamente a consciência feminina e castram o desenvolvimento de grande parte de nossa capacidade crítica. Assim, nós crescemos absorvendo e reproduzindo os valores masculinos como ‘verdades universais’, solidificando a realidade que nos condiciona. Ainda, para a maioria de nós, as determinações do sujeito feminino socialmente construído, ou seja, a maternidade, o casamento, a atividade doméstica, a objetificação do corpo e o direcionamento afetivo-sexual aos homens, são a única realidade conhecida em que podemos nos sentir inseridas socialmente sem graves conflitos. Porém, os riscos sempre existem, por mais que conflitos sejam apaziguados, por mais que nos conformemos às imposições e expectativas em busca de um falso conforto. É um tremendo engano pensarmos que podemos estar de qualquer maneira em segurança dentro de um sistema no qual somos coletivamente atacadas como personificações dos temores paranóicos dos homens e onde cotidianamente temos nossas energias extraídas e nossa existência em si mesma negada sob a ameaça de violências ainda maiores.
Patriarcado cristão – dominio masculino pra quê?
Pra continuar perpetuando
um sistema Homem
que já deu todas as mostras de
ser mais do que falhado?
Pra ficar tentando encontrar uma maneira
de o patriarcado ser mais justo ou melhor?
Não! O patriarcado não vai ser melhor
nem mais justo
porque sua base é a injustiça...
Nunca será um sistema pacífico
porque sua base é a violência
Nunca será democrático
porque sua base é a dominação
Nunca vai ser um sistema equilibrado
porque sua base é a usurpação e o banimento do Feminino
Nunca vai ser um sistema verdadeiro
porque sua base está edificada
sobre um monte de mentiras...
Beleza
A mulher moderna sabe que, apesar da evolução das ciências e das artes, o homem continua o mesmo, e o principal atrativo que encontra na mulher é sua aparência física. Julgar porque se casou com ele está dispensada de seduzi-lo é outro grave erro. O homem é volúvel. Sua busca pela "mulher ideal" é apenas a forma romântica com que encobre essa volubilidade, e geralmente envelhecem sem descobrir o que querem da mulher. Só sabem que a querem. Sempre bonita e renovada, se possível.
Clarice Lispector
Para as mulheres as piores coisas são a feiúra ou a indiferença dos outros ou das outras com elas. Isso porque seria para elas muito difícil obter qualquer atenção inicial. Numa mulher todos notam apenas se é bonita (agradavel) ou feia (repulsiva); ninguém oferece a ela a chance de se mostrar por palavras ou atitudes tal qual acontece com os homens.
Dana Densmore
É observação corriqueira que as mulheres estão sempre tentando alisar o cabelo se é crespo e encrespá-lo se é liso, apertar os seios se são grandes e recheá-los se são pequenos, escurecer o cabelo se é claro, e clareá-lo se é escuro. Nem todas essas medidas são ditadas pelo fantasma da moda. Todas refletem insatisfação com o corpo tal como ele é, e um insistente desejo de que fosse diferente, não natural, mas controlado, fabricado. Muitos dos artifícios adotados pelas mulheres não são cosméticos ou ornamentais, mas disfarces do verdadeiro, surgindo do medo e desagrado. A influência universal do estereótipo feminino é o fator singular mais importante no ódio à mulher, tanto masculino como feminino. Até que a mulher, tal como é, possa empurrar este espectro plástico para fora de sua imaginação e da de seu marido, ela continuará a se desculpar e se disfarçar, enquanto vai aceitando sem queixume a barrigona, as pelancas, o mau hálito, a barba hirsuta, a careca e outras feiuras de seu homem. O homem exige, em sua arrogância, ser amado como é, e se recusa mesmo a impedir o desenvolvimento das mais tristes distorções do corpo humano que podem ofender a sensibilidade estética de sua mulher. A mulher, por outro lado, não pode se contentar com saúde e agilidade: precisa fazer exorbitantes esforços para parecer algo que nunca poderia existir sem uma diligente perversão da natureza. É demais pedir que seja poupada às mulheres a luta diária por uma beleza super-humana a fim de oferecê-la às carícias de um companheiro sub-humanamente feio? Considera-se que as mulheres nunca ficam enojadas. O triste fato é que ficam muitas vezes, mas não com os homens; seguindo a orientação dos homens, ficam na maioria das vezes enojadas consigo mesmas.
Germaine Greer, A Mulher Eunuco
Ser verdadeiro provavelmente é um dos direitos fundamentais do ser humano. Mas ser verdadeiro exige saber reconhecer os nossos desejos e as nossas necessidades mais profundas. Do meu ponto de vista, acho que o problema real das mulheres seja não ser mais capazes de reconhecer as nossas necessidades, portanto como é possível sermos verdadeiras?
Introjetamos o modelo masculino tão profundamente, que não sabemos mais reconhecer o que queremos realmente e o que nos faz felizes. Quero dizer, nós olhamos umas às outras com olhos masculinos, olhamos para os nossos corpos, os nossos seios, as nossas bocas, nossas gorduras e nossas rugas, como pensamos que um homem nos olharia. O atual modelo de beleza não nos representa e é, no mínimo bizarro que a publicidade use imagens com referências sexuais atraentes para homens para atrair o público feminino...
Estou convencida de que, sem essa pressão contínua sobre o "ter que ser bonita", de acordo com padrões que não escolhemos, nos aceitaríamos muito mais pelo que somos.
A "beleza" é um sistema monetário semelhante ao padrão ouro. Como qualquer sistema, ele é determinado pela política e, na era moderna do mundo ocidental, consiste no último e melhor conjunto de crenças a manter intacto o domínio masculino.
Naomi Wolf, O Mito da Beleza
Parece que quanto quanto mais obstáculos são vencidos pelas mulheres, mais rígidas e cruéis são as normas da beleza impostas. Quanto mais espaços sociais são conquistados na luta pela igualdade de direitos, outros tantos são perdidos pelo sentimento de inadequação e vergonha. A liberdade pela qual tanto se luta é relativizada pela imposição sobre os corpos... O embelezamento tem uma função muito importante dentro da dicotomia sexual: a de aprofundar cada vez mais a diferenciação sexual. A mulher tida como feia é aquela que apresenta características consideradas masculinas. A dicotomia sexual traz uma série de normas para os corpos masculinos e femininos que têm por consequência a criação do anormal e a discriminação em relação a ele. Os padrões de beleza são cada dia mais rígidos e violentos e, por serem naturalizados e velados, não se tornam uma preocupação e a sutileza com que esses padrões se fazem presentes parecem colocá-los na esfera do inquestionável. Enquanto isso, influenciadas pela atual concepção binária dos sexos, a violência do embelezamento às mulheres e a repressão às que não seguem suas regras aumentam.
*****
Quando você pensa em violência, o que lhe vem em mente? Talvez agressão física, forçar alguém a fazer algo... No entanto, existem várias roupagens em que a violência contra a mulher se esconde. As feministas sempre atentaram para a violência da beleza, e é disso que tratarei um pouco nesse texto.
É engraçado que, apesar de a violência se processar de diversas maneiras, ela possui um singular modo de se manter, que é a culpabilizando a vítima. É dito por muitos homens que eles não pedem para que as mulheres se maquiem, nem que sejam magérrimas, nem nada do tipo. Ou seja, o fato de as mulheres doentemente procurarem seguir os padrões de beleza é culpa delas mesmas. As mulheres constantemente são pressionadas a serem "lindas". Talvez os homens nunca digam diretamente que tipo de mulheres preferem, mas eles de fato o fazem quando chamam umas de tábua, outras de baleia, a cabelo de bombril, fedida, peluda, baranga, espinhenta. Deixam bem claro que se uma mulher não seguir o padrão - tão absurdo que uma mulher precisaria se deformar completamente para tentar chegar a ele - ela será perseguida, ridicularizada.
Mas mesmo que não existissem homens desse tipo, nem haveria necessidade. A mídia faz um papel de tirania simbólica muito mais eficiente. A "campanha de verdadeira beleza" da Dove, por exemplo, é no fim a simples venda de cosméticos. Uma mulher nunca pode simplesmente "ser" bonita, ela precisa de meios para atingir a beleza, os santos cosméticos. E quando se descobre que os cosméticos são cruelmente testados em animais, a culpa é de quem? Das mulheres é claro. Afinal, ninguém nunca pediu pra que elas fizessem isso. As mulheres nunca são boas o suficiente. Não são boas no trabalho, não são boas na resolução de problemas, não são boas. Não são boas na beleza. Se uma mulher tem um rosto lindo, com certeza alguma parte de seu corpo, mesmo que seja uma parte de dentro - pois as mulheres são levadas quase a uma paranóia com a pressão para terem uma alimentação saudável - não presta. E isso afeta grandemente nossa auto-estima.
Toda mulher, em algum grau, tem insegurança. E não estou falando apenas das mulheres que consomem revistas de beleza, mas mesmo das mulheres que reivindicam o feminismo e lutam pela dignidade de todas nós sermos vistas como seres humanos. Isso se reflete na nossa timidez para falar em público, no nosso medo de desagradar, no nosso incômodo com o nosso corpo.
As feministas sonham com o dia em que as mulheres percebam que já nascem perfeitas. Com celulite, com estria, sem pele de pêssego, sem drenagem linfática nem botox, sem silicone, com rugas, com pêlos, com sangue de menstruação, com marcas de sorriso. Se os homens se incomodam, podemos lidar com isso, o problema é quando nós mesmas nos vemos, ao nascermos seres humanos, como defeituosas ou imperfeitas em qualquer grau.
(texto de um zine feminista)
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Pérolas Anti-Feministas
"Feminismo é odiado porque as mulheres são odiadas. Anti-feminismo é uma expressão direta da misoginia, é a defesa política do ódio à mulher."
Andrea Dworkin
Em tempos de violentas reações contrárias ao feminismo e à herança dos antigos misóginos, podemos encontrar anti-feministas facilmente em todo lugar (principalmente aqui na internet, que "por acaso" é onde se situa, com grande facilidade de acesso, a maior quantidade de amostras de sexismo e misoginia – vide a pornografia). Anti-feministas estão em todos os lugares e nos mais variados estilos, dos mais hesitantes e comedidos aos mais convictos e ostensivos. Se o/a anti-feminista em questão não estiver disfarçando com eficiência o próprio sexismo (o que apesar de não ser muito provável de acontecer, não é de todo impossível), com certeza você vai ouvir ou ler pelo menos uma das pérolas aqui reunidas. Toda feminista já está cansada de presenciar frases como estas, dá até pra fazer um bingo com tanta estupidez e absurdos repetidos ad nauseam:
– "Não sou feminista nem machista, sou humanista."
– "Não sou feminista, sou feminina."
– "Eu só acho que mulher tem que ser feminina."
– "Vamos deixar de lado isso de homem agressor e mulher agredida e pensar no ser humano."
– "Se há um agressor, há também um ser que se deixa agredir."
– "Isso é vitimismo. Isso só reforça o machismo."
– "Você está com uma mentalidade de vítima."
– "Tudo é opressão pra vocês feministas."
– "Mas o patriarcado também oprime os homens."
– "Como homem, sinto-me agredido quando você diz que os homens oprimem as mulheres."
– "Eu sei que os homens são assim. Só que eu sou diferente."
– "Eu não posso ser machista porque amo as mulheres. Sou casado com uma! Tenho mãe!"
– "Eu sou só um cavalheiro à moda antiga."
– "Você devia se ocupar de causas mais importantes."
– "Existem problemas legítimos, mas isso que você está falando não tem a menor relevância."
– "Não vou gastar minhas energias com problemas culturais e milenares. Se eu for me importar toda vez que escutar uma frase machista não vou fazer mais nada na vida."
– "Quem acha isso machista é que é machista."
– "Isso não tem nada a ver com machismo. É cultural. Só um padrão estético."
– "Vivemos num mundo que valoriza as mulheres. A propaganda é direcionada ao público feminino."
– "A publicidade é inofensiva, só um apelo à vaidade feminina."
– "Mulheres não têm que se arrumar. Fazem porque querem!"
– "Vinicius de Moraes já dizia: 'As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental'."
– "Mulher adora cantada na rua. Faz bem pro ego."
– "Um homem mexer com uma mulher na rua não é machismo."
– "Isso não é machismo. A mulher sempre será mais frágil, ela precisa da proteção do homem."
– "Mas é que os homens e as mulheres são biologicamente diferentes."
– "Como homens e mulheres são diferentes e têm necessidades diferentes, não há sentido no feminismo."
– "Machismo não existe mais. Vocês inventam inimigos para justificar a existência de um movimento obsoleto."
– "Isso é paranóia sua. Eu sei que o mundo já foi machista, mas hoje as coisas são diferentes."
– "As mulheres já conquistaram tudo o que queriam. O feminismo perdeu sua razão de ser."
– "Feminismo não tem valor nenhum, se é que já teve. As mulheres têm direitos iguais ou superiores aos homens em todas as áreas da sociedade."
– "As mães são as responsáveis por criarem homens-trastes."
– "As mulheres que são as maiores machistas! Quem você acha que educa as gerações futuras?"
– "Não existe amizade verdadeira entre mulheres."
– "O maior inimigo do feminismo é a própria mulher."
– "Homens podem trazer uma visão menos limitada e mais correta do que é feminismo."
– "Aos homens cabe até defender os direitos das mulheres. Até a liberdade sexual, não reivindicada pelas mulheres, foi uma conquista dos homens."
– "Então por que é que foram os homens que fizeram tudo na história da humanidade?"
– "Eu disse homem no sentido de humanidade. Feministas implicam com cada coisa!"
– "Feministas não tem senso de humor."
– "VOCÊS NÃO ACEITAM UMA PIADA, NÃO É MESMO?"
– "Você tá de TPM?"
– "Como você é agressiva. Isso é muito feio para uma mulher."
– "Desse jeito ninguém vai querer você."
– "Você não está pensando racionalmente, tente ser menos emotiva."
– "Você não entendeu nada, sua histérica, frígida, baranga, feminazi."
– "Tudo o que as feministas precisam é de uma boa pica."
– "Odiar os homens não resolve nada."
– "Você está exagerando, parece uma feminazi."
– "São feminazis como você que sujam o nome do feminismo."
– "Isso é femismo, não feminismo. É machismo ao contrário."
– "Nem todo homem é machista. Vocês que nos segregam desse seu movimento sexista. Suas feminazis horrorosas!"
– "O feminismo nada mais é que o oposto do machismo."
– "O problema das feministas é que elas querem tomar o lugar dos homens."
– "As feministas não querem direitos para as mulheres, querem privilégios."
– "Isso de igualdade dos sexos é só uma invenção das mulheres para conseguirem subjugar os homens."
– "As sociedades matriarcais são tão ou mais violentas que as patriarcais."
– "Margaret Thatcher, Golda Meir e tantas outras políticas não fizeram um governo melhor que o dos homens."
– "Por causa do feminismo as mulheres começaram a querer imitar os homens, e no que eles têm de pior. Vocês deviam lutar pelos seus direitos como mulheres."
– "Chega de feminismo! Eu quero mais é um homem pra chamar de meu."
– "Garanto que muitas mulheres se pudessem voltar no tempo iriam preferir como era antes, elas tinham muito mais valor."
– "Maldito feminismo! Se não fosse por ele eu podia estar em casa agora fazendo meu crochê, vendo TV..."
– "O que vocês têm contra as mulheres que ficam em casa cuidando dos filhos?"
– "O feminismo só piorou a vida das mulheres. Era melhor ser Amélia."
– "Minha visão não é machista, é realista."
– "Vocês estão fora do compasso da realidade!"
– "Homens gostam muito mais de sexo que as mulheres. É a natureza!"
– "É genético, um homem deve espalhar sua sementinha."
– "Golfinhos, chimpanzés, e o Gengis Khan são estupradores. Estupro é geneticamente eficiente para espalhar a sementinha."
– "A gente não pode negar os instintos dos homens."
– "Se as mulheres fossem fortes como os homens certamente também estuprariam e espancariam. Só não o fazem porque perderiam."
– "Só porque você não gosta de sexo ninguém mais pode gostar?"
– "Nelson Rodrigues já dizia: 'Não são todas as mulheres que gostam de apanhar. Só as normais'."
– "Mulher gosta é de cafajeste. Bonzinho só se fode!"
– "Mulher não mata o marido, mas vai acabando com ele devagarzinho."
– "Homem ser chamado de machista é insulto, mulher ser chamada de feminista é elogio."
– "Menos Simones de Beauvoir, mais Marie Curies, por favor!"
– "Depois vocês não entendem por que tanta gente é contra o feminismo."
– "Assim como não se deve combater o mal com o mal, não se deve combater o machismo com feminismo."
– "Eu vou te dizer qual o problema com o feminismo..."
Andrea Dworkin
Em tempos de violentas reações contrárias ao feminismo e à herança dos antigos misóginos, podemos encontrar anti-feministas facilmente em todo lugar (principalmente aqui na internet, que "por acaso" é onde se situa, com grande facilidade de acesso, a maior quantidade de amostras de sexismo e misoginia – vide a pornografia). Anti-feministas estão em todos os lugares e nos mais variados estilos, dos mais hesitantes e comedidos aos mais convictos e ostensivos. Se o/a anti-feminista em questão não estiver disfarçando com eficiência o próprio sexismo (o que apesar de não ser muito provável de acontecer, não é de todo impossível), com certeza você vai ouvir ou ler pelo menos uma das pérolas aqui reunidas. Toda feminista já está cansada de presenciar frases como estas, dá até pra fazer um bingo com tanta estupidez e absurdos repetidos ad nauseam:
– "Não sou feminista nem machista, sou humanista."
– "Não sou feminista, sou feminina."
– "Eu só acho que mulher tem que ser feminina."
– "Vamos deixar de lado isso de homem agressor e mulher agredida e pensar no ser humano."
– "Se há um agressor, há também um ser que se deixa agredir."
– "Isso é vitimismo. Isso só reforça o machismo."
– "Você está com uma mentalidade de vítima."
– "Tudo é opressão pra vocês feministas."
– "Mas o patriarcado também oprime os homens."
– "Como homem, sinto-me agredido quando você diz que os homens oprimem as mulheres."
– "Eu sei que os homens são assim. Só que eu sou diferente."
– "Eu não posso ser machista porque amo as mulheres. Sou casado com uma! Tenho mãe!"
– "Eu sou só um cavalheiro à moda antiga."
– "Você devia se ocupar de causas mais importantes."
– "Existem problemas legítimos, mas isso que você está falando não tem a menor relevância."
– "Não vou gastar minhas energias com problemas culturais e milenares. Se eu for me importar toda vez que escutar uma frase machista não vou fazer mais nada na vida."
– "Quem acha isso machista é que é machista."
– "Isso não tem nada a ver com machismo. É cultural. Só um padrão estético."
– "Vivemos num mundo que valoriza as mulheres. A propaganda é direcionada ao público feminino."
– "A publicidade é inofensiva, só um apelo à vaidade feminina."
– "Mulheres não têm que se arrumar. Fazem porque querem!"
– "Vinicius de Moraes já dizia: 'As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental'."
– "Mulher adora cantada na rua. Faz bem pro ego."
– "Um homem mexer com uma mulher na rua não é machismo."
– "Isso não é machismo. A mulher sempre será mais frágil, ela precisa da proteção do homem."
– "Mas é que os homens e as mulheres são biologicamente diferentes."
– "Como homens e mulheres são diferentes e têm necessidades diferentes, não há sentido no feminismo."
– "Machismo não existe mais. Vocês inventam inimigos para justificar a existência de um movimento obsoleto."
– "Isso é paranóia sua. Eu sei que o mundo já foi machista, mas hoje as coisas são diferentes."
– "As mulheres já conquistaram tudo o que queriam. O feminismo perdeu sua razão de ser."
– "Feminismo não tem valor nenhum, se é que já teve. As mulheres têm direitos iguais ou superiores aos homens em todas as áreas da sociedade."
– "As mães são as responsáveis por criarem homens-trastes."
– "As mulheres que são as maiores machistas! Quem você acha que educa as gerações futuras?"
– "Não existe amizade verdadeira entre mulheres."
– "O maior inimigo do feminismo é a própria mulher."
– "Homens podem trazer uma visão menos limitada e mais correta do que é feminismo."
– "Aos homens cabe até defender os direitos das mulheres. Até a liberdade sexual, não reivindicada pelas mulheres, foi uma conquista dos homens."
– "Então por que é que foram os homens que fizeram tudo na história da humanidade?"
– "Eu disse homem no sentido de humanidade. Feministas implicam com cada coisa!"
– "Feministas não tem senso de humor."
– "VOCÊS NÃO ACEITAM UMA PIADA, NÃO É MESMO?"
– "Você tá de TPM?"
– "Como você é agressiva. Isso é muito feio para uma mulher."
– "Desse jeito ninguém vai querer você."
– "Você não está pensando racionalmente, tente ser menos emotiva."
– "Você não entendeu nada, sua histérica, frígida, baranga, feminazi."
– "Tudo o que as feministas precisam é de uma boa pica."
– "Odiar os homens não resolve nada."
– "Você está exagerando, parece uma feminazi."
– "São feminazis como você que sujam o nome do feminismo."
– "Isso é femismo, não feminismo. É machismo ao contrário."
– "Nem todo homem é machista. Vocês que nos segregam desse seu movimento sexista. Suas feminazis horrorosas!"
– "O feminismo nada mais é que o oposto do machismo."
– "O problema das feministas é que elas querem tomar o lugar dos homens."
– "As feministas não querem direitos para as mulheres, querem privilégios."
– "Isso de igualdade dos sexos é só uma invenção das mulheres para conseguirem subjugar os homens."
– "As sociedades matriarcais são tão ou mais violentas que as patriarcais."
– "Margaret Thatcher, Golda Meir e tantas outras políticas não fizeram um governo melhor que o dos homens."
– "Por causa do feminismo as mulheres começaram a querer imitar os homens, e no que eles têm de pior. Vocês deviam lutar pelos seus direitos como mulheres."
– "Chega de feminismo! Eu quero mais é um homem pra chamar de meu."
– "Garanto que muitas mulheres se pudessem voltar no tempo iriam preferir como era antes, elas tinham muito mais valor."
– "Maldito feminismo! Se não fosse por ele eu podia estar em casa agora fazendo meu crochê, vendo TV..."
– "O que vocês têm contra as mulheres que ficam em casa cuidando dos filhos?"
– "O feminismo só piorou a vida das mulheres. Era melhor ser Amélia."
– "Minha visão não é machista, é realista."
– "Vocês estão fora do compasso da realidade!"
– "Homens gostam muito mais de sexo que as mulheres. É a natureza!"
– "É genético, um homem deve espalhar sua sementinha."
– "Golfinhos, chimpanzés, e o Gengis Khan são estupradores. Estupro é geneticamente eficiente para espalhar a sementinha."
– "A gente não pode negar os instintos dos homens."
– "Se as mulheres fossem fortes como os homens certamente também estuprariam e espancariam. Só não o fazem porque perderiam."
– "Só porque você não gosta de sexo ninguém mais pode gostar?"
– "Nelson Rodrigues já dizia: 'Não são todas as mulheres que gostam de apanhar. Só as normais'."
– "Mulher gosta é de cafajeste. Bonzinho só se fode!"
– "Mulher não mata o marido, mas vai acabando com ele devagarzinho."
– "Homem ser chamado de machista é insulto, mulher ser chamada de feminista é elogio."
– "Menos Simones de Beauvoir, mais Marie Curies, por favor!"
– "Depois vocês não entendem por que tanta gente é contra o feminismo."
– "Assim como não se deve combater o mal com o mal, não se deve combater o machismo com feminismo."
– "Eu vou te dizer qual o problema com o feminismo..."
Opiniões de Homens sobre as Mulheres
ou sessão vomitório...
"A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior."
Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego
"As mulheres são limitadas por natureza.
(...) A mulher é como se fosse um macho estéril."
Aristóteles, 384-322 a.C.
"No que respeita aos animais, o macho é por natureza superior e dominador e a fêmea inferior e dominada. E o mesmo deve necessariamente aplicar-se ao mundo humano."
Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego
"A coragem do homem revela-se no comando, e a da mulher na obediência."
Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego, Generation of Animals
"A natureza da mulher é inferior a do homem na sua capacidade para a virtude."
Platão, 428-347 a.C., filósofo grego, As Leis
"Depois dos catorze anos, as mulheres não almejam mais do que a tornarem-se parceiras de cama do homem, e começam a alindar-se e a pôr nisso todas as suas esperanças. Por essa razão, é importante darmo-nos ao trabalho de lhes fazer perceber que só se elevarão por via de uma aparência modesta e do auto-respeito."
Epíteto, 50-127, filósofo romano, Dissertações
"Abraçar uma mulher é como abraçar um saco de esterco."
São Odo de Cluny, 1030-1097, monge beneditino
"A mulher é o que há de mais corrupto e corruptível no mundo."
Confúcio, filósofo chinês, século V a.C.
"A mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: Senhor, que desejais que eu faça?"
Zaratustra, filósofo persa, século VII a.C.
"A fêmea é fêmea em virtude de certa falta de qualidades. A mulher é mais vulnerável à piedade. Ela chora com maior facilidade, é mais chegada à inveja, à lamúria e à injúria; facilmente se deixa abater pelo desespero. É menos sanguínea que o homem. Tem menos pudor e ambição. É menos digna de confiança." Aristóteles
"O homem é ativo, cheio de movimento, criativo na política, nos negócios e na cultura. O macho dá forma e configura a sociedade e o mundo. A mulher, por outro lado, é passiva. Ela fica em casa, segundo sua natureza. Ela é matéria aguardando para ser formada pelo princípio ativo do macho. É claro que os elementos ativos ficam sempre mais altos em qualquer escala, e são mais divinos. O homem, por conseqüência, desempenha papel mais importante na reprodução, na qual a mulher é mera encubadora de sua semente... o semen masculino cozinha e forma o sangue menstrual em novo ser humano..." Aristóteles
"Os homens covardes, que foram injustos durante sua vida, serão muito provavelmente transformados em mulheres quando reencarnarem." Platão
"Os deuses criaram a mulher para funções domésticas, os homens para todas as outras. Os deuses colocaram a mulher dentro de casa porque ela tolera menos o frio, o calor e a guerra. Para a mulher ficar em casa é honesto, andar por aí desonesto. Para o homem, é vergonhoso ficar trancado em casa e não se ocupar com negócios do lado de fora." Xenofonte
"...que a mulher viva sob uma estreita vigilância, veja o menor número de coisas possível, ouça o menor número de coisas possível, faça o menor número de perguntas possível." Xenofonte, historiador, soldado e mercenário grego
"Em verdade, as melhores mulheres são as que se contentam com pouco." Maomé
"As três virtudes de uma mulher são obedecer ao pai, obedecer ao marido e obedecer ao filho." Provérbio chinês
"É preciso trazê-la de rédea curta... As mulheres querem liberdade total, ou antes, licensiosidade total. Se lhes for permitido atingir completa igualdade com o homem, pensam que será mais fácil viver com elas? Nada disso. Uma vez que tenham alcançado a igualdade, elas serão seus senhores..." Catão
"Para a boa ordem da família humana, uns terão que ser governados por outros mais sábios que aqueles; daí a mulher, mais fraca quanto ao vigor da alma e força corporal, estar sujeita por natureza ao homem, em quem a razão predomina." Tomás de Aquino
"A mulher é um ser acidental e falho. Seu destino é viver sob a tutela do homem. Sobre si mesma ela não tem autoridade alguma. Por natureza a mulher é inferior ao homem em força e dignidade, e por natureza lhe está sujeita, pois no homem o que domina, pela sua própria natureza, é a facilidade de discernir, a inteligência." Tomás de Aquino
"A mulher está em sujeição por causa das leis da natureza, mas é uma escrava somente pelas leis da circunstância... A mulher está submetida ao homem pela fraqueza de seu espírito e de seu corpo... é um ser incompleto, um tipo de homem imperfeito... A mulher é defeituosa e bastarda, pois o princípio ativo da semente masculina tende à produção de homens gerados à sua perfeita semelhança. A geração de uma mulher resulta de defeitos no princípio ativo." Tomás de Aquino, Summa Theologica
"A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação." Timóteo
"Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, ser segregadas já que são causa de horrendas e involuntárias ereções em santos homens." Santo Agostinho
"É Eva, a tentadora, que devemos ver em toda mulher. Não consigo ver que utilidade a mulher tem para o homem, tirando a função de ter filhos." Santo Agostinho de Hipona, pai da Igreja
"Em meio a todos os animais selvagens não se encontra nenhum mais nocivo do que a mulher." São João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla
"A mulher é uma ferramenta de Satã e um caminho para o Inferno."
São Jerônimo
"Não há maior defeito numa mulher que o desejar ser inteligente." Martinho Lutero
"As palavras e atos de Deus são bem claros: as mulheres foram feitas para ser esposas ou prostitutas." Martinho Lutero
"Tenham os vossos filhos e façam o que puderem. Se morrerem no parto, benditas sejam, porque certamente morreram fazendo a vontade de Deus... Vejam como são débeis e pouco saudáveis as mulheres estéreis. As que foram abençoadas com muitos filhos são mais saudáveis, limpas e alegres. Mas se eventualmente se esgotam e morrem, não importa. Que morram dando à luz, pois para isto existem." Martinho Lutero
"Os homens são superiores às mulheres porque Alá outorgou-lhes a primazia sobre elas. Portanto, dai aos varões o dobro do que dai às mulheres. Os maridos que sofrerem desobediência de suas mulheres podem castigá-las; deixá-las sós em seus leitos, e até bater nelas. Não se legou ao homem maior calamidade que a mulher." Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, escrito por Maomé no século VI
"O homem, mas não a mulher, é feito à imagem de Deus. Daí resulta claramente que as mulheres devem estar submetidas a seus maridos e devem ser como escravas." Graciano, especialista em direito canônico, século XII
"Inimiga da paz, fonte de inquietação, causa de brigas que destroem toda a tranqüilidade, a mulher é o próprio diabo." Petrarca, poeta italiano do Renascimento, século XIV
"Quando um homem for repreendido em público por uma mulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapé e quebrar-lhe o nariz para que assim, desfigurada, não se deixe ver, envergonhada de sua face. E é bem merecido, por dirigir-se ao homem com maldade de linguajar ousado."
Le Ménagier de Paris, Tratado de conduta moral e costumes da França, século XIV
"...é bruxaria quando a mulher é impossibilitada de concenber ou aborta após ter concebido." Jacques Sprenger, inquisidor dominicano, final do século XV
"Os males perpetrados pelas bruxas modernas excedem todos os pecados já permitidos por Deus." Jacques Sprenger, inquisidor dominicano, final do século XV
"Se hoje queimamos as bruxas é por causa do seu sexo feminino."
Jacques Sprenger, inquisidor dominicano, final do século XV
"A mulher é mais carnal que o homem; vemos isto por suas multiplas torpezas... Existe um defeito na formação da primeira mulher, pois ela foi feita de uma costela curva, torta, colocada em oposição ao homem. Ela é, assim, um ser vivo imperfeito, sempre enganador." Jacques Sprenger, inquisidor dominicano, final do século XV
"Porque o que o homem tem externamente a mulher o tem internamente, tanto por sua natureza, quanto por sua imbecilidade, que não pode expelir e por para fora estas partes. Os orgãos sexuais femininos tornam as mulheres disformes e vergonhosas quando nuas." Ambroise Paré, médico e cientista do século XVI
"Toda a educação da mulher deve ser relacionada ao homem. Agradá-los, ser-lhes útil, fazer-se amada e honrada por eles, educá-los quando jovens, cuidá-los quando adultos, aconselhá-los, consolá-los, torna-lhes a vida útil e agradável - São esses os deveres das mulheres em todos os tempos e o que lhes deve ser ensinado desde a infância." Jean Jacques Rousseau, principal ideólogo da revolução francesa, século XVIII
"A mulher pode ser educada, mas sua mente não é adequada às ciências mais elevadas, à filosofia e algumas das artes." Friederich Hegel, filósofo e historiador alemão do século XIX
"A culpa de um homem não tão promissor é em sua totalidade da mulher, que não o soube cuidar como deveria." Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX
"Um homem de senso brinca com as mulheres, joga com elas, distrai-as e as elogia, como faz com uma criança esperta e inteligente; mas nunca as consulta nem confia nelas quanto a assuntos sérios." Lord Chesterfield
"A falha fundamental do caráter da mulher é que ela não tem o senso de justiça." Arthur Schopenhaur
"Entre todos os males do mundo a mulher é de fato o mais profundo."
George Granville
"Quem conhece a mente de uma mulher acaba odiando-a." D.H. Lawrence
"As qualidades que fazem apelo a uma mulher são os sinais de uma sexualidade desenvolvida; aquelas que lhe causam repulsa são as qualidades da mente superior. A mulher é essencialmente uma adoradora do falo." Otto Weininger
"Uma figura feminina absolutamente nua deixa uma impressão de algo deficiente, uma coisa incompleta que é incompatível com a beleza." Otto Weininger
"Nenhum homem que pense realmente de modo profundo sobre as mulheres tem uma elevada opinião sobre elas; os homens ou desprezam as mulheres ou nunca pensaram seriamente sobre elas." Otto Weininger
"A mulher não deseja ser tratada como um agente ativo, ela quer permanecer sempre e em toda parte – e é nisso que precisamente consiste a feminilidade – puramente passiva, e sentir-se ela própria na dependência da vontade de outrem; ela apenas e tão-somente quer ser desejada fisicamente e ser possuída como uma nova propriedade." Otto Weininger, Sex and Character
Por quanto tempo os homens e o patriarcado continuarão a projetar seus defeitos sobre as mulheres? Por quanto tempo mais vamos internalizá-los ainda? Até quando vamos acreditar em suas mentiras e inversões e deixaremos eles nos atacarem impunemente?
"Pois se viessem a ser chamados perante o tribunal da história, os deuses dos patriarcas teriam muitos crimes contra a mulher pelos quais responder." Rosalind Miles
Sinceramente, que morram todos os misóginos do mundo, não farão falta alguma...
"Eu odeio os homens como somente uma mulher pode odiar, somente como alguém que tem visto a brutalidade, a futilidade e a estupidez deles."
Dallas D. Eisensteiner
"A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior."
Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego
"As mulheres são limitadas por natureza.
(...) A mulher é como se fosse um macho estéril."
Aristóteles, 384-322 a.C.
"No que respeita aos animais, o macho é por natureza superior e dominador e a fêmea inferior e dominada. E o mesmo deve necessariamente aplicar-se ao mundo humano."
Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego
"A coragem do homem revela-se no comando, e a da mulher na obediência."
Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego, Generation of Animals
"A natureza da mulher é inferior a do homem na sua capacidade para a virtude."
Platão, 428-347 a.C., filósofo grego, As Leis
"Depois dos catorze anos, as mulheres não almejam mais do que a tornarem-se parceiras de cama do homem, e começam a alindar-se e a pôr nisso todas as suas esperanças. Por essa razão, é importante darmo-nos ao trabalho de lhes fazer perceber que só se elevarão por via de uma aparência modesta e do auto-respeito."
Epíteto, 50-127, filósofo romano, Dissertações
"Abraçar uma mulher é como abraçar um saco de esterco."
São Odo de Cluny, 1030-1097, monge beneditino
"A mulher é o que há de mais corrupto e corruptível no mundo."
Confúcio, filósofo chinês, século V a.C.
"A mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: Senhor, que desejais que eu faça?"
Zaratustra, filósofo persa, século VII a.C.
"A fêmea é fêmea em virtude de certa falta de qualidades. A mulher é mais vulnerável à piedade. Ela chora com maior facilidade, é mais chegada à inveja, à lamúria e à injúria; facilmente se deixa abater pelo desespero. É menos sanguínea que o homem. Tem menos pudor e ambição. É menos digna de confiança." Aristóteles
"O homem é ativo, cheio de movimento, criativo na política, nos negócios e na cultura. O macho dá forma e configura a sociedade e o mundo. A mulher, por outro lado, é passiva. Ela fica em casa, segundo sua natureza. Ela é matéria aguardando para ser formada pelo princípio ativo do macho. É claro que os elementos ativos ficam sempre mais altos em qualquer escala, e são mais divinos. O homem, por conseqüência, desempenha papel mais importante na reprodução, na qual a mulher é mera encubadora de sua semente... o semen masculino cozinha e forma o sangue menstrual em novo ser humano..." Aristóteles
"Os homens covardes, que foram injustos durante sua vida, serão muito provavelmente transformados em mulheres quando reencarnarem." Platão
"Os deuses criaram a mulher para funções domésticas, os homens para todas as outras. Os deuses colocaram a mulher dentro de casa porque ela tolera menos o frio, o calor e a guerra. Para a mulher ficar em casa é honesto, andar por aí desonesto. Para o homem, é vergonhoso ficar trancado em casa e não se ocupar com negócios do lado de fora." Xenofonte
"...que a mulher viva sob uma estreita vigilância, veja o menor número de coisas possível, ouça o menor número de coisas possível, faça o menor número de perguntas possível." Xenofonte, historiador, soldado e mercenário grego
"Em verdade, as melhores mulheres são as que se contentam com pouco." Maomé
"As três virtudes de uma mulher são obedecer ao pai, obedecer ao marido e obedecer ao filho." Provérbio chinês
"É preciso trazê-la de rédea curta... As mulheres querem liberdade total, ou antes, licensiosidade total. Se lhes for permitido atingir completa igualdade com o homem, pensam que será mais fácil viver com elas? Nada disso. Uma vez que tenham alcançado a igualdade, elas serão seus senhores..." Catão
"Para a boa ordem da família humana, uns terão que ser governados por outros mais sábios que aqueles; daí a mulher, mais fraca quanto ao vigor da alma e força corporal, estar sujeita por natureza ao homem, em quem a razão predomina." Tomás de Aquino
"A mulher é um ser acidental e falho. Seu destino é viver sob a tutela do homem. Sobre si mesma ela não tem autoridade alguma. Por natureza a mulher é inferior ao homem em força e dignidade, e por natureza lhe está sujeita, pois no homem o que domina, pela sua própria natureza, é a facilidade de discernir, a inteligência." Tomás de Aquino
"A mulher está em sujeição por causa das leis da natureza, mas é uma escrava somente pelas leis da circunstância... A mulher está submetida ao homem pela fraqueza de seu espírito e de seu corpo... é um ser incompleto, um tipo de homem imperfeito... A mulher é defeituosa e bastarda, pois o princípio ativo da semente masculina tende à produção de homens gerados à sua perfeita semelhança. A geração de uma mulher resulta de defeitos no princípio ativo." Tomás de Aquino, Summa Theologica
"A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação." Timóteo
"Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, ser segregadas já que são causa de horrendas e involuntárias ereções em santos homens." Santo Agostinho
"É Eva, a tentadora, que devemos ver em toda mulher. Não consigo ver que utilidade a mulher tem para o homem, tirando a função de ter filhos." Santo Agostinho de Hipona, pai da Igreja
"Em meio a todos os animais selvagens não se encontra nenhum mais nocivo do que a mulher." São João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla
"A mulher é uma ferramenta de Satã e um caminho para o Inferno."
São Jerônimo
"Não há maior defeito numa mulher que o desejar ser inteligente." Martinho Lutero
"As palavras e atos de Deus são bem claros: as mulheres foram feitas para ser esposas ou prostitutas." Martinho Lutero
"Tenham os vossos filhos e façam o que puderem. Se morrerem no parto, benditas sejam, porque certamente morreram fazendo a vontade de Deus... Vejam como são débeis e pouco saudáveis as mulheres estéreis. As que foram abençoadas com muitos filhos são mais saudáveis, limpas e alegres. Mas se eventualmente se esgotam e morrem, não importa. Que morram dando à luz, pois para isto existem." Martinho Lutero
"Os homens são superiores às mulheres porque Alá outorgou-lhes a primazia sobre elas. Portanto, dai aos varões o dobro do que dai às mulheres. Os maridos que sofrerem desobediência de suas mulheres podem castigá-las; deixá-las sós em seus leitos, e até bater nelas. Não se legou ao homem maior calamidade que a mulher." Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, escrito por Maomé no século VI
"O homem, mas não a mulher, é feito à imagem de Deus. Daí resulta claramente que as mulheres devem estar submetidas a seus maridos e devem ser como escravas." Graciano, especialista em direito canônico, século XII
"Inimiga da paz, fonte de inquietação, causa de brigas que destroem toda a tranqüilidade, a mulher é o próprio diabo." Petrarca, poeta italiano do Renascimento, século XIV
"Quando um homem for repreendido em público por uma mulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapé e quebrar-lhe o nariz para que assim, desfigurada, não se deixe ver, envergonhada de sua face. E é bem merecido, por dirigir-se ao homem com maldade de linguajar ousado."
Le Ménagier de Paris, Tratado de conduta moral e costumes da França, século XIV
"...é bruxaria quando a mulher é impossibilitada de concenber ou aborta após ter concebido." Jacques Sprenger, inquisidor dominicano, final do século XV
"Os males perpetrados pelas bruxas modernas excedem todos os pecados já permitidos por Deus." Jacques Sprenger, inquisidor dominicano, final do século XV
"Se hoje queimamos as bruxas é por causa do seu sexo feminino."
Jacques Sprenger, inquisidor dominicano, final do século XV
"A mulher é mais carnal que o homem; vemos isto por suas multiplas torpezas... Existe um defeito na formação da primeira mulher, pois ela foi feita de uma costela curva, torta, colocada em oposição ao homem. Ela é, assim, um ser vivo imperfeito, sempre enganador." Jacques Sprenger, inquisidor dominicano, final do século XV
"Porque o que o homem tem externamente a mulher o tem internamente, tanto por sua natureza, quanto por sua imbecilidade, que não pode expelir e por para fora estas partes. Os orgãos sexuais femininos tornam as mulheres disformes e vergonhosas quando nuas." Ambroise Paré, médico e cientista do século XVI
"Toda a educação da mulher deve ser relacionada ao homem. Agradá-los, ser-lhes útil, fazer-se amada e honrada por eles, educá-los quando jovens, cuidá-los quando adultos, aconselhá-los, consolá-los, torna-lhes a vida útil e agradável - São esses os deveres das mulheres em todos os tempos e o que lhes deve ser ensinado desde a infância." Jean Jacques Rousseau, principal ideólogo da revolução francesa, século XVIII
"A mulher pode ser educada, mas sua mente não é adequada às ciências mais elevadas, à filosofia e algumas das artes." Friederich Hegel, filósofo e historiador alemão do século XIX
"A culpa de um homem não tão promissor é em sua totalidade da mulher, que não o soube cuidar como deveria." Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX
"Um homem de senso brinca com as mulheres, joga com elas, distrai-as e as elogia, como faz com uma criança esperta e inteligente; mas nunca as consulta nem confia nelas quanto a assuntos sérios." Lord Chesterfield
"A falha fundamental do caráter da mulher é que ela não tem o senso de justiça." Arthur Schopenhaur
"Entre todos os males do mundo a mulher é de fato o mais profundo."
George Granville
"Quem conhece a mente de uma mulher acaba odiando-a." D.H. Lawrence
"As qualidades que fazem apelo a uma mulher são os sinais de uma sexualidade desenvolvida; aquelas que lhe causam repulsa são as qualidades da mente superior. A mulher é essencialmente uma adoradora do falo." Otto Weininger
"Uma figura feminina absolutamente nua deixa uma impressão de algo deficiente, uma coisa incompleta que é incompatível com a beleza." Otto Weininger
"Nenhum homem que pense realmente de modo profundo sobre as mulheres tem uma elevada opinião sobre elas; os homens ou desprezam as mulheres ou nunca pensaram seriamente sobre elas." Otto Weininger
"A mulher não deseja ser tratada como um agente ativo, ela quer permanecer sempre e em toda parte – e é nisso que precisamente consiste a feminilidade – puramente passiva, e sentir-se ela própria na dependência da vontade de outrem; ela apenas e tão-somente quer ser desejada fisicamente e ser possuída como uma nova propriedade." Otto Weininger, Sex and Character
Por quanto tempo os homens e o patriarcado continuarão a projetar seus defeitos sobre as mulheres? Por quanto tempo mais vamos internalizá-los ainda? Até quando vamos acreditar em suas mentiras e inversões e deixaremos eles nos atacarem impunemente?
"Pois se viessem a ser chamados perante o tribunal da história, os deuses dos patriarcas teriam muitos crimes contra a mulher pelos quais responder." Rosalind Miles
Sinceramente, que morram todos os misóginos do mundo, não farão falta alguma...
"Eu odeio os homens como somente uma mulher pode odiar, somente como alguém que tem visto a brutalidade, a futilidade e a estupidez deles."
Dallas D. Eisensteiner
Ódio
Afinal de contas, o que é um homem? Tudo o que vejo ao meu redor na cultura popular me informa que um homem é aquele que fode e mata. Mas tudo o que vejo ao meu redor na vida me informa que um homem é aquele que ganha dinheiro. Talvez as duas coisas se relacionem, porque ganhar dinheiro em nosso mundo quase sempre exige evitar cuidadosamente foder e matar; por isso, talvez, a cultura supra a parte anulada. Não afirmo saber, nem me importo muito em saber. Acho que isso é problema deles. Atualmente, as mulheres se esforçam para eliminar as imagens que lhes foram impostas. A dificuldade é que existe tanta verdade nessas imagens que repudiá-las freqüentemente significa repudiar também parte do que se é. Talvez os homens estejam no mesmo barco, mas não creio. Acho que eles gostam muito de suas imagens, porque as julgam úteis. Se não julgam, cabe a eles mudá-las. Não sei se é isso que são os homens; estou disposta a não ter nada com eles nunca mais, e só ter crianças através da partenogênese, o que significaria que eu só teria filhas, e isso me agradaria muito. Porém, a outra faceta da imagem - a realidade - é igualmente má. Porque, se os homens que conheci não mataram, não foram ótimos de cama nem souberam ganhar muito dinheiro (na maioria), tampouco foram outras coisas. São simplesmente chatos. Talvez seja esse o preço de estar no lado vencedor. Porque as mulheres que conheço foram fodidas, literal e figurativamente, e estão ótimas.
Uma vantagem de ser uma espécie desprezada é que se tem liberdade, liberdade de ser o que se queira, mesmo que seja algo doido. Se você prestar atenção a um grupo de donas-de-casa conversando, vai ouvir um bocado de besteiras, até de birutices. Acredito que isso seja devido ao fato de elas ficarem muito sós e de terem liberdade de ficar pensando as coisas mais disparatadas sem nenhum impedimento, que alguns chamam de disciplina. O resultado é loucura, mas também brilhantismo. Mulheres comuns dizem as verdades mais incríveis. Você as ignora porque quer. E elas têm licença de prosseguir com suas afirmações desvairadas sem serem postas em um tipo ou outro de cadeia (pelo menos, algumas delas), porque todos sabem que elas são malucas e também que não detêm nenhum poder. Se uma mulher é religiosa ou materialista, passiva ou incrivelmente segura de si, amável ou odiosa, não recebe mais ásperas críticas do que se não for tudo isso; suas opções são: ser castigada como prisioneira ou como prostituta. O que não compreendo é onde as mulheres subitamente conseguem poder. Porque elas conseguem mesmo. As crianças, que quase sempre acabam virando umas titicas, são, como sabemos todos, culpa da mãe. Bem, como foi que ela conseguiu isso, essa criatura sem nenhum poder? Onde estava todo o seu poder durante os anos em que ela lavava roupa cinco vezes por semana e se preocupava em não deixar a roupa branca se misturar à colorida? Como conseguiu eliminar a influência positiva do pai? Como é que ela nunca sabe que tem esse poder, só depois, quando ele recebe o nome de responsabilidade?
O que estou tentando entender é ganhar e perder. Agora a regra do jogo é que os homens ganham enquanto conservam os narizes comparativamente limpos, e as mulheres sempre perdem, sempre, mesmo as mulheres extraordinárias. As Edith Piaf e Judy Garland da vida tornam-se grandes ao capitalizar sua perda. Isso está claro. O que não está claro é o jogo que estamos jogando. O que é que se ganha quando se ganha? Sei o que se perde, pois já tive algumas experiências nesse sentido. O que não sei são as recompensas envolvidas com a vitória, além do dinheiro. Talvez seja isso, talvez só exista isso. Acho que sim, porque quando olho para os vencedores, todos os Norm do mundo, não vejo muita coisa mais: só dinheiro e certa tranqüilidade no mundo, uma sensação de legitimidade.
Você acha que odeio os homens. Acho que sim, apesar de alguns dos meus melhores amigos... Não gosto dessa posição. Não confio em ódio generalizado. Sinto-me como um monge do século XII, esbravejando que as mulheres são más e que se devem cobrir totalmente ao sair para que não conduzam os homens a maus pensamentos. A hipótese de que são os homens que importam, e que as mulheres só existem em relação a eles, é tão tranqüila e subjacente que mesmo nós só a descobrimos há pouco tempo. Afinal de contas, é isso o que lemos: eu leio Schopenhauer, Nietzsche, Wittgenstein, Freud e Erickson; leio Montherlant, Joyce, Lawrence e gente mais tola, como Miller, Mailer, Roth e Philip Wylie. Leio a Bíblia e os mitos gregos, e não questiono por que as últimas reedições relegaram Gaia Telus e Lilith a um rodapé e fizeram de Saturno o criador do mundo. Leio os hindus e os judeus, Pitágoras e Aristóteles, Sêneca, Catão, São Paulo, Lutero, Samuel Johnson, Rousseau, Swift, ou sobre eles, sem me interessar muito... bem, você compreende. Durante anos não levei nada para o lado pessoal.
Por isso agora me é difícil chamar os outros de preconceituosos, porque eu também o sou. Digo imediatamente às pessoas, para preveni-las, que sofro de deformação do caráter, mas a verdade é que estou enojada porque há quatro mil anos os machos me dizem que meu sexo é podre. Fico especialmente enojada quando vejo tantos homens podres e tantas mulheres magníficas no mundo, sendo que todos têm uma ligeira desconfiança de que os quatro mil anos de observação estavam corretos. Atualmente, sinto-me uma fora-da-lei, uma criminosa. Talvez seja isso o que as pessoas percebem ao me olharem tão estranhamente quando caminho na praia. Sinto-me uma fora-da-lei não só quando acho os homens podres e as mulheres divinas, como porque acredito agora que as pessoas oprimidas têm o direito de utilizar meios criminosos para sobreviver. Por meios criminosos quero dizer desafiar as leis decretadas pelos opressores para manter os oprimidos subjugados. Essa posição, porém, me aproxima perigosamente dos que pregam a própria opressão. Estamos limitados aos termos da sentença. Sujeito-verbo-objeto. O melhor a fazer é inverter a ordem. O que não é resposta, não é?
Bem, deixo as respostas aos outros, talvez uma geração mais nova, sem as deformidades sofridas pela minha. Minha opinião sobre os homens é resultado de minha experiência. Tenho pouca solidariedade para com eles. Como um judeu que acaba de ser solto de Dachau, vejo o jovem soldado nazista contorcer-se em dores no chão com uma bala na barriga, e simplesmente sigo adiante. Nem dou de ombros. Simplesmente não me importo. O que ele era como pessoa, isto é, seus temores e desejos, simplesmente não me dizem respeito. É tarde demais para que eu me importe. Outrora eu poderia ter me importado.
Mas o reino encantado está muito além da porta. Odiarei eternamente os nazistas, mesmo que você me prove que eles foram vítimas, estavam sujeitos a ilusão e haviam sofrido lavagem cerebral. A pedra na minha barriga é como a pérola de uma ostra: é o acúmulo de defesas contra uma irritação. Minha pérola é meu ódio, e meu ódio foi obtido com a experiência: isso não é preconceito. Gostaria que fosse. Aí, talvez, eu pudesse esquecê-lo.
Marilyn French, "The Women's Room".
terça-feira, 23 de novembro de 2010
SCUM Manifesto
"O proletariado poderia propor-se o trucidamento da classe dirigente; um judeu, um negro fanático poderiam sonhar com possuir o segredo da bomba atômica e constituir uma humanidade inteiramente judaica ou inteiramente negra: mas mesmo em sonho a mulher não pode exterminar os homens. O laço que a une a seus opressores não é comparável a nenhum outro. A divisão dos sexos é, com efeito, um dado biológico e não um momento da história humana."
Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo
Quando o controverso SCUM Manifesto escrito por Valerie Solanas foi publicado em 1968, poderia se dizer que uma caixa de pandora foi aberta. Muito se discutiu e se escreveu sobre ele, seja rejeitando-o como "delírios exagerados de uma maluca odiadora de homens" ou reconhecendo que a análise de Valerie tem contribuído bastante para a tomada de consciência do feminismo (e também para a consciência das paranóias e neuroses masculinas, diga-se de passagem). Com uma linguagem sarcástica e de divertida engenhosidade, o manifesto possui uma crítica precisa que causa impacto e gera questionamentos quanto aos problemas do patriarcado, suas inversões e dualidades, que indicam o homem como positivo e neutro e a mulher como seu negativo. Contudo, o livro não encontrou um lugar próprio, e mesmo dentro do feminismo tem sido muitas vezes desprestigiado e tratado com embaraço. De fato, num tempo em que o empoderamento feminino significa a "liberdade" de se "valorizar" como objeto sexual, em que todas nós amamos e respeitamos os homens e estamos felizes com a participação "igualitária" na escravidão assalariada, entre roupas e pratos a lavar, refeições a preparar e marido e filhos a criar, o panfleto de Solanas se faz mais necessário do que nunca. Num mundo ainda baseado na humilhação, subordinação e opressão diárias da maior parte da população e onde o feminismo enfrenta os mais diversos contra-ataques, desde ofensivas masculinistas a reações ideológicas contrárias e má vontade política (com certeza você já ouviu que "a liberdade das mulheres já foi conquistada" e que "o feminismo não tem mais significado"), toda expressão de insurreição feminina é indispensável. Deixo aqui alguns excertos do manifesto, para que ele possa falar por si mesmo.
SCUM Manifesto
por Valerie Solanas
Sendo a vida nesta sociedade, na melhor das hipóteses, um tédio absoluto, e sendo que nenhum aspecto desta sociedade tem qualquer significado para o sexo feminino, às mulheres responsáveis, conscientes, em busca de emoções, só resta derrubar o governo, destruir o sistema monetário, instituir a automação completa e eliminar o sexo masculino.
A reprodução é hoje tecnicamente possível sem necessidade de recorrer ao macho (ou, neste ponto, à fêmea) e é possível reproduzir apenas fêmeas. Isto deve começar a ser feito desde já. Reter o sexo masculino não tem nem mesmo o propósito duvidoso da reprodução. O macho é um erro biológico: o gene Y (masculino) é um gene X (feminino) incompleto, isto é, dotado de uma série incompleta de cromossomos. Por outras palavras: o macho é uma fêmea incompleta, um aborto ambulante, falhado na fase do gene. Ser macho significa ser deficiente, emocionalmente limitado; a masculinidade é uma doença e os homens são seres emocionalmente estropiados.
O homem é um ser egocêntrico, fechado em si próprio, incapaz de desenvolver afinidades, de se identificar com os outros, de amar, de sentir amizade, afeição ou ternura. É uma célula completamente isolada, incapaz de se relacionar. As suas reações são inteiramente viscerais e não cerebrais; a inteligência é um mero instrumento ao serviço dos seus impulsos e desejos; é incapaz de paixão mental, interação mental, não consegue relacionar-se com nada que esteja além das próprias sensações físicas. É um ser amorfo, semivivo, sem capacidade para dar ou receber prazer ou felicidade: incapaz daquela absorção nos outros que torna uma pessoa interessante, fica reduzido a uma nódoa, um perfeito chato. O homem está encurralado numa dimensão a meio caminho entre seres humanos e os macacos e numa situação bem pior que estes, porque, ao contrário dos macacos, o homem é capaz duma grande quantidade de sentimentos negativos: ódio, inveja, desprezo, repugnância, culpa, vergonha, suspeita; além disso tem consciência do que é e do que não é.
Apesar de totalmente físico, até sexualmente falando o homem é incompetente. Mesmo pressupondo a proficiência mecânica, que poucos homens têm, ele é, em primeiro lugar e acima de tudo, incapaz de se agarrar e gozar com entusiasmo e sensualidade; em vez disso é roído pela culpa, vergonha, medo e insegurança, sentimentos enraizados na natureza masculina e que a melhor educação pode apenas minimizar; depois, a sensação física que ele consegue atingir está perto do nada; por fim, em vez de comunicar com a companheira, fica obcecado com o que está a fazer, tentando fazer um bom trabalho de perfuração que lhe permita obter uma nota boa nesse desempenho. Chamar animal a um homem é elogiá-lo; ele é uma máquina, um vibrador com pernas. É dito frequentemente que os homens usam as mulheres. Usam-nas para quê? Certamente não é para o prazer.
Roído pela culpa, vergonha, medo, insegurança, e conseguindo, se tiver sorte, uma fraca sensação física, o macho está, apesar de tudo, obcecado com o fornicaço; nada em esgotos, atravessa quilômetros de vômito, enterrado até o pescoço, se pensar que do outro lado há uma vagina acolhedora à sua espera. É capaz de foder uma mulher que despreze, ou até uma bruxa velha e desdentada, e ainda por cima pagará por isso. E por quê? Para aliviar a tensão física não é resposta, para isso a masturbação é suficiente; e também não é para satisfazer o ego; isso não explica que foda cadáveres e bebês.
Todo ele egocêntrico, incapaz de se relacionar, de criar afinidades e de se identificar com os outros, senhor de uma vasta e difusa sexualidade, o homem é psiquicamente passivo. Ele, que odeia sua própria passividade, projeta-a nas mulheres, define-se como ativo e tenta demonstrá-lo (provar que é homem). Foder é seu principal meio para conseguir ("Eu sou bom, tenho uma grande pica, como uma garota gostosa"). Na tentativa de demonstração de algo que é falso, ele tem de tentar repetidamente, uma vez, outra vez e mais outra. Foder torna-se então uma tentativa compulsiva e desesperada para provar que não é passivo, que não é uma mulher: mas acontece que ele é passivo e que interiormente deseja ser mulher.
Sendo ele uma fêmea incompleta, o macho passa a vida a tentar completar-se, tornar-se fêmea. Para conseguir anda sempre à procura de mulheres, confraternizando, tentando viver através delas, fundir-se nelas; proclama como suas as características femininas: força emocional, independência, energia, dinamismo, poder de decisão, objetividade, firmeza, coragem, integridade, vitalidade, intensidade, profundidade de caráter, alegria, e projeta nas mulheres todos os traços característicos dos homens: vaidade, futilidade, trivialidade, fraqueza, etc. Deve ser dito, no entanto, que o homem possui uma área de evidente superioridade sobre a mulher – a de relações públicas. (Ele realizou um trabalho brilhante convencendo milhões de mulheres de que os homens são mulheres e as mulheres são homens). Os homens afirmam que as mulheres encontram satisfação através da maternidade e da sexualidade, mas isso reflete o que ELES achariam satisfatório se fossem mulheres.
As mulheres, em outras palavras, não têm inveja do pênis; os homens é que têm inveja da vagina. Quando o macho aceita sua passividade, define a si mesmo como mulher (os machos, assim como as fêmeas, pensam que os homens são mulheres e as mulheres são homens), e torna-se um travesti – ele perde o desejo de foder (ou de fazer qualquer outra coisa, neste ponto; ele se satisfaz como uma drag queen) e faz com que lhe cortem o pênis. Ele então adquire um sentimento sexual contínuo e difuso de "ser mulher". Foder é, para um homem, uma defesa contra seu desejo de ser mulher. O sexo é em si mesmo uma sublimação.
O macho, devido à obsessão que o atormenta por não ter nascido fêmea, agravada pela incapacidade de comunicar e de sentir profundamente, tornou-se responsável por:
Guerra – Um meio de afirmar a sua superioridade mediante a destruição do maior complexo de inferioridade que o mina desde a infância: ser sexualmente mais limitado que as mulheres.
Boas maneiras – Dominado por um sentimento de animalidade, envergonhado, incapaz de se exprimir e de esconder dos outros o seu próprio egocentrismo total, o macho inventou o ódio social pelas maneiras espontâneas e naturais, e estabeleceu um código de comportamento mediante o qual os seres humanos já não podem comunicar naturalmente.
Dinheiro, matrimônio, prostituição, trabalho, prevenção da automatização – Para tornar a mulher uma escrava completa, o homem inventou o dinheiro, o matrimônio e a prostituição, que a envilecem, tornando-a dependente dele. Além disso, não há qualquer razão para que os seres humanos trabalhem e utilizem o dinheiro. Todos os empregos não criativos (praticamente todos os empregos existentes) podiam ter sido automatizados há já muito tempo, e não o foram. Numa sociedade sem dinheiro todas poderiam alcançar aquilo que desejam sem qualquer esforço.
Paternidade e doenças mentais (medo, velhacaria, timidez, humildade, insegurança, passividade) – A mãe deseja o bem dos filhos; o pai deseja que os filhos cresçam no respeito pelas suas conquistas sociais. Por isso, educa-os para serem respeitosos, dignos, banais, peados, falhos de imaginação, tal como ele próprio, inculcando-lhes o amor pelo dinheiro.
Supressão da individualidade, animalismo, funcionalização – O pai exerce uma verdadeira tirania sobre o desenvolvimento dos filhos, os quais tenderiam todos a participar na vida da mãe, e, por isso, a serem por ela influenciados das maneiras mais diversas. Ele obriga-os a respeitarem aquilo que ele respeita, o que provoca uma série de traumatismos psicológicos de alcance inestimável. Além disso, prepara os filhos para a funcionalização mecânica da sociedade criada pelos machos, e as filhas para o animalismo caseiro que permite aos machos continuarem a reger o mundo.
Isolamento, subúrbios, prevenção da comunidade – A nossa sociedade não é uma comunidade. É simplesmente uma série de unidades familiares isoladas. O homem teme continuamente perder a sua mulher, e, com isso, a própria categoria social: por isso tende cada vez mais a isolá-la no campo, campo que tornou o mais aprazível que pôde e a que pôs o nome de "subúrbios".
Conformismo – O homem, embora apregoe que deseja ser um indivíduo, tem um medo extremo de se mostrar diferente dos outros homens em cada uma das suas atividades: social, sexual, intelectual. Disso é prova a sua confraternização, o seu espírito competitivo nas relações sexuais, a sua perplexidade perante os desvios psicofísicos.
Autoridade e governo – Não existe razão no mundo pela qual uma sociedade composta de seres racionais e capazes de comunicarem uns com os outros deva ter um governo, leis, chefes políticos e religiosos, técnicos. Mas o macho recorreu a este aparelho a fim de fugir à sua natural tendência para se fazer orientar e proteger pela mãe, pela mulher.
Filosofia, religião, moral – Dado que a felicidade é impossível na Terra, o homem inventou o paraíso. A sua incapacidade para estabelecer verdadeiros laços de fraternidade torna a sua vida absurda e destituída de significado, pelo que inventou os sistemas filosóficos e as leis morais com um único objetivo: o de se libertar desse vácuo.
Preconceito (racial, étnico, religioso, etc.) – O macho precisa de bodes expiatórios sobre os quais possa projetar suas falhas e inadequações e sobre os quais possa descarregar sua frustração por não ser fêmea. E as várias discriminações têm a vantagem prática de aumentar substancialmente a quantidade de vaginas disponíveis para os homens no topo.
Competição, prestígio, status, educação formal, ignorância, classes sociais e econômicas – Tendo um desejo obsessivo de ser admirado pelas mulheres, mas não tendo nenhum valor inerente, o homem constrói uma sociedade altamente artificial que o possibilita apropriar-se de uma aparência de valor através do dinheiro, prestígio, "alta" classe social, diplomas, posição profissional e conhecimento e, derrubando profissionalmente, socialmente, economicamente, e educacionalmente tantos outros homens quanto possível.
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O fim da educação universitária não é o de fornecer uma bagagem cultural aos nossos jovens, mas sim o de excluir o máximo número possível desses jovens das várias profissões.
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Nenhuma revolução verdadeira poderá nunca ser feita pelos homens, porque os que estão no Poder querem conservar as coisas como estão, e os que estão afastados do Poder querem simplesmente alcançá-lo. O rebelde masculino é uma farsa: esta sociedade é sua, pertence-lhe, fê-la ele para satisfação dos seus desejos. Mas ele não pode sentir-se satisfeito, porque não é capaz disso. No fim de contas, o macho que se rebela, rebela-se sempre contra a mesma coisa: contra o seu ser masculino.
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O amor não pode florescer numa sociedade baseada no dinheiro e no trabalho sem sentido; pelo contrário, para que o amor floresça exige-se liberdade econômica e pessoal, tempo disponível, oportunidade de nos deixarmos envolver em atividades emotivamente satisfatórias, que, uma vez partilhadas entre pessoas que se respeitam, podem conduzir a uma amizade profunda. Mas a sociedade não fornece, praticamente, nenhuma oportunidade desse gênero.
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O sexo é o refúgio dos estúpidos. Quanto mais privada de aparelho mental for a mulher, quanto mais integrada estiver na "cultura" masculina, por outras palavras, quanto mais graciosa for, mais sensual é. As mulheres mais graciosas da nossa "sociedade" são maníacas sexuais.
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O sexo não é parte de um relacionamento; pelo contrário, é uma experiência solitária, não-criativa, uma grande perda de tempo. A fêmea pode facilmente – mais facilmente do que ela pode imaginar – afastar seu impulso sexual, deixando-se completamente tranqüila e cerebral e livre para perseguir atividades e relacionamentos verdadeiramente valiosos; mas o macho, que parece gostar sexualmente das mulheres e que procura excitá-las constantemente, estimula a fêmea altamente-sexual a frenesis de luxúria, atirando-a num abismo de sexo do qual poucas mulheres escapam. O macho lascivo excitou a fêmea sensual; ele precisa fazê-lo – quando a mulher transcende seu corpo, eleva-se acima do animalismo, o homem, cujo ego constitui-se de seu pênis, desaparecerá.
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Muitas mulheres, mesmo assumindo a completa igualdade econômica entre os sexos, prefeririam viver com homens ou mascatear suas bundas na rua para ter a maior parte do seu tempo para si próprias, em vez de perder muitas horas dos seus dias fazendo trabalhos tediosos, embrutecedores, não-criativos para alguma outra pessoa, funcionando como máquinas, ou na melhor das hipóteses – se forem capazes de conseguir um "bom" emprego – co-administrando o monte de merda. Portanto, o que vai libertar as mulheres do controle masculino é a total eliminação do sistema dinheiro-trabalho, não a obtenção de igualdade econômica com os homens dentro desse sistema.
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Depois da eliminação do dinheiro não haverá mais necessidade de matar os homens; eles serão despojados do único poder que têm sobre as mulheres psicologicamente independentes. Uma vez que os homens sejam afastados do poder, nós estaremos livres para progredir com o trabalho de curar o mundo. Todos os trabalhos sem sentido serão automatizados, deixando as mulheres livres para fazer coisas como achar curas para todas as doenças. Bebês serão produzidos em laboratórios, porque nenhuma mulher, uma vez libertada, vai querer ser uma "égua reprodutora".
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Por que há de haver gerações futuras? Com que finalidade? Quando tivermos eliminado o envelhecimento e a morte, por que havemos de continuar a reproduzir-nos? Que importância tem o que possa acontecer depois da nossa morte? Por que deveríamos nos importar que não haverá geração mais jovem para suceder-nos?
Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo
Quando o controverso SCUM Manifesto escrito por Valerie Solanas foi publicado em 1968, poderia se dizer que uma caixa de pandora foi aberta. Muito se discutiu e se escreveu sobre ele, seja rejeitando-o como "delírios exagerados de uma maluca odiadora de homens" ou reconhecendo que a análise de Valerie tem contribuído bastante para a tomada de consciência do feminismo (e também para a consciência das paranóias e neuroses masculinas, diga-se de passagem). Com uma linguagem sarcástica e de divertida engenhosidade, o manifesto possui uma crítica precisa que causa impacto e gera questionamentos quanto aos problemas do patriarcado, suas inversões e dualidades, que indicam o homem como positivo e neutro e a mulher como seu negativo. Contudo, o livro não encontrou um lugar próprio, e mesmo dentro do feminismo tem sido muitas vezes desprestigiado e tratado com embaraço. De fato, num tempo em que o empoderamento feminino significa a "liberdade" de se "valorizar" como objeto sexual, em que todas nós amamos e respeitamos os homens e estamos felizes com a participação "igualitária" na escravidão assalariada, entre roupas e pratos a lavar, refeições a preparar e marido e filhos a criar, o panfleto de Solanas se faz mais necessário do que nunca. Num mundo ainda baseado na humilhação, subordinação e opressão diárias da maior parte da população e onde o feminismo enfrenta os mais diversos contra-ataques, desde ofensivas masculinistas a reações ideológicas contrárias e má vontade política (com certeza você já ouviu que "a liberdade das mulheres já foi conquistada" e que "o feminismo não tem mais significado"), toda expressão de insurreição feminina é indispensável. Deixo aqui alguns excertos do manifesto, para que ele possa falar por si mesmo.
SCUM Manifesto
por Valerie Solanas
Sendo a vida nesta sociedade, na melhor das hipóteses, um tédio absoluto, e sendo que nenhum aspecto desta sociedade tem qualquer significado para o sexo feminino, às mulheres responsáveis, conscientes, em busca de emoções, só resta derrubar o governo, destruir o sistema monetário, instituir a automação completa e eliminar o sexo masculino.
A reprodução é hoje tecnicamente possível sem necessidade de recorrer ao macho (ou, neste ponto, à fêmea) e é possível reproduzir apenas fêmeas. Isto deve começar a ser feito desde já. Reter o sexo masculino não tem nem mesmo o propósito duvidoso da reprodução. O macho é um erro biológico: o gene Y (masculino) é um gene X (feminino) incompleto, isto é, dotado de uma série incompleta de cromossomos. Por outras palavras: o macho é uma fêmea incompleta, um aborto ambulante, falhado na fase do gene. Ser macho significa ser deficiente, emocionalmente limitado; a masculinidade é uma doença e os homens são seres emocionalmente estropiados.
O homem é um ser egocêntrico, fechado em si próprio, incapaz de desenvolver afinidades, de se identificar com os outros, de amar, de sentir amizade, afeição ou ternura. É uma célula completamente isolada, incapaz de se relacionar. As suas reações são inteiramente viscerais e não cerebrais; a inteligência é um mero instrumento ao serviço dos seus impulsos e desejos; é incapaz de paixão mental, interação mental, não consegue relacionar-se com nada que esteja além das próprias sensações físicas. É um ser amorfo, semivivo, sem capacidade para dar ou receber prazer ou felicidade: incapaz daquela absorção nos outros que torna uma pessoa interessante, fica reduzido a uma nódoa, um perfeito chato. O homem está encurralado numa dimensão a meio caminho entre seres humanos e os macacos e numa situação bem pior que estes, porque, ao contrário dos macacos, o homem é capaz duma grande quantidade de sentimentos negativos: ódio, inveja, desprezo, repugnância, culpa, vergonha, suspeita; além disso tem consciência do que é e do que não é.
Apesar de totalmente físico, até sexualmente falando o homem é incompetente. Mesmo pressupondo a proficiência mecânica, que poucos homens têm, ele é, em primeiro lugar e acima de tudo, incapaz de se agarrar e gozar com entusiasmo e sensualidade; em vez disso é roído pela culpa, vergonha, medo e insegurança, sentimentos enraizados na natureza masculina e que a melhor educação pode apenas minimizar; depois, a sensação física que ele consegue atingir está perto do nada; por fim, em vez de comunicar com a companheira, fica obcecado com o que está a fazer, tentando fazer um bom trabalho de perfuração que lhe permita obter uma nota boa nesse desempenho. Chamar animal a um homem é elogiá-lo; ele é uma máquina, um vibrador com pernas. É dito frequentemente que os homens usam as mulheres. Usam-nas para quê? Certamente não é para o prazer.
Roído pela culpa, vergonha, medo, insegurança, e conseguindo, se tiver sorte, uma fraca sensação física, o macho está, apesar de tudo, obcecado com o fornicaço; nada em esgotos, atravessa quilômetros de vômito, enterrado até o pescoço, se pensar que do outro lado há uma vagina acolhedora à sua espera. É capaz de foder uma mulher que despreze, ou até uma bruxa velha e desdentada, e ainda por cima pagará por isso. E por quê? Para aliviar a tensão física não é resposta, para isso a masturbação é suficiente; e também não é para satisfazer o ego; isso não explica que foda cadáveres e bebês.
Todo ele egocêntrico, incapaz de se relacionar, de criar afinidades e de se identificar com os outros, senhor de uma vasta e difusa sexualidade, o homem é psiquicamente passivo. Ele, que odeia sua própria passividade, projeta-a nas mulheres, define-se como ativo e tenta demonstrá-lo (provar que é homem). Foder é seu principal meio para conseguir ("Eu sou bom, tenho uma grande pica, como uma garota gostosa"). Na tentativa de demonstração de algo que é falso, ele tem de tentar repetidamente, uma vez, outra vez e mais outra. Foder torna-se então uma tentativa compulsiva e desesperada para provar que não é passivo, que não é uma mulher: mas acontece que ele é passivo e que interiormente deseja ser mulher.
Sendo ele uma fêmea incompleta, o macho passa a vida a tentar completar-se, tornar-se fêmea. Para conseguir anda sempre à procura de mulheres, confraternizando, tentando viver através delas, fundir-se nelas; proclama como suas as características femininas: força emocional, independência, energia, dinamismo, poder de decisão, objetividade, firmeza, coragem, integridade, vitalidade, intensidade, profundidade de caráter, alegria, e projeta nas mulheres todos os traços característicos dos homens: vaidade, futilidade, trivialidade, fraqueza, etc. Deve ser dito, no entanto, que o homem possui uma área de evidente superioridade sobre a mulher – a de relações públicas. (Ele realizou um trabalho brilhante convencendo milhões de mulheres de que os homens são mulheres e as mulheres são homens). Os homens afirmam que as mulheres encontram satisfação através da maternidade e da sexualidade, mas isso reflete o que ELES achariam satisfatório se fossem mulheres.
As mulheres, em outras palavras, não têm inveja do pênis; os homens é que têm inveja da vagina. Quando o macho aceita sua passividade, define a si mesmo como mulher (os machos, assim como as fêmeas, pensam que os homens são mulheres e as mulheres são homens), e torna-se um travesti – ele perde o desejo de foder (ou de fazer qualquer outra coisa, neste ponto; ele se satisfaz como uma drag queen) e faz com que lhe cortem o pênis. Ele então adquire um sentimento sexual contínuo e difuso de "ser mulher". Foder é, para um homem, uma defesa contra seu desejo de ser mulher. O sexo é em si mesmo uma sublimação.
O macho, devido à obsessão que o atormenta por não ter nascido fêmea, agravada pela incapacidade de comunicar e de sentir profundamente, tornou-se responsável por:
Guerra – Um meio de afirmar a sua superioridade mediante a destruição do maior complexo de inferioridade que o mina desde a infância: ser sexualmente mais limitado que as mulheres.
Boas maneiras – Dominado por um sentimento de animalidade, envergonhado, incapaz de se exprimir e de esconder dos outros o seu próprio egocentrismo total, o macho inventou o ódio social pelas maneiras espontâneas e naturais, e estabeleceu um código de comportamento mediante o qual os seres humanos já não podem comunicar naturalmente.
Dinheiro, matrimônio, prostituição, trabalho, prevenção da automatização – Para tornar a mulher uma escrava completa, o homem inventou o dinheiro, o matrimônio e a prostituição, que a envilecem, tornando-a dependente dele. Além disso, não há qualquer razão para que os seres humanos trabalhem e utilizem o dinheiro. Todos os empregos não criativos (praticamente todos os empregos existentes) podiam ter sido automatizados há já muito tempo, e não o foram. Numa sociedade sem dinheiro todas poderiam alcançar aquilo que desejam sem qualquer esforço.
Paternidade e doenças mentais (medo, velhacaria, timidez, humildade, insegurança, passividade) – A mãe deseja o bem dos filhos; o pai deseja que os filhos cresçam no respeito pelas suas conquistas sociais. Por isso, educa-os para serem respeitosos, dignos, banais, peados, falhos de imaginação, tal como ele próprio, inculcando-lhes o amor pelo dinheiro.
Supressão da individualidade, animalismo, funcionalização – O pai exerce uma verdadeira tirania sobre o desenvolvimento dos filhos, os quais tenderiam todos a participar na vida da mãe, e, por isso, a serem por ela influenciados das maneiras mais diversas. Ele obriga-os a respeitarem aquilo que ele respeita, o que provoca uma série de traumatismos psicológicos de alcance inestimável. Além disso, prepara os filhos para a funcionalização mecânica da sociedade criada pelos machos, e as filhas para o animalismo caseiro que permite aos machos continuarem a reger o mundo.
Isolamento, subúrbios, prevenção da comunidade – A nossa sociedade não é uma comunidade. É simplesmente uma série de unidades familiares isoladas. O homem teme continuamente perder a sua mulher, e, com isso, a própria categoria social: por isso tende cada vez mais a isolá-la no campo, campo que tornou o mais aprazível que pôde e a que pôs o nome de "subúrbios".
Conformismo – O homem, embora apregoe que deseja ser um indivíduo, tem um medo extremo de se mostrar diferente dos outros homens em cada uma das suas atividades: social, sexual, intelectual. Disso é prova a sua confraternização, o seu espírito competitivo nas relações sexuais, a sua perplexidade perante os desvios psicofísicos.
Autoridade e governo – Não existe razão no mundo pela qual uma sociedade composta de seres racionais e capazes de comunicarem uns com os outros deva ter um governo, leis, chefes políticos e religiosos, técnicos. Mas o macho recorreu a este aparelho a fim de fugir à sua natural tendência para se fazer orientar e proteger pela mãe, pela mulher.
Filosofia, religião, moral – Dado que a felicidade é impossível na Terra, o homem inventou o paraíso. A sua incapacidade para estabelecer verdadeiros laços de fraternidade torna a sua vida absurda e destituída de significado, pelo que inventou os sistemas filosóficos e as leis morais com um único objetivo: o de se libertar desse vácuo.
Preconceito (racial, étnico, religioso, etc.) – O macho precisa de bodes expiatórios sobre os quais possa projetar suas falhas e inadequações e sobre os quais possa descarregar sua frustração por não ser fêmea. E as várias discriminações têm a vantagem prática de aumentar substancialmente a quantidade de vaginas disponíveis para os homens no topo.
Competição, prestígio, status, educação formal, ignorância, classes sociais e econômicas – Tendo um desejo obsessivo de ser admirado pelas mulheres, mas não tendo nenhum valor inerente, o homem constrói uma sociedade altamente artificial que o possibilita apropriar-se de uma aparência de valor através do dinheiro, prestígio, "alta" classe social, diplomas, posição profissional e conhecimento e, derrubando profissionalmente, socialmente, economicamente, e educacionalmente tantos outros homens quanto possível.
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O fim da educação universitária não é o de fornecer uma bagagem cultural aos nossos jovens, mas sim o de excluir o máximo número possível desses jovens das várias profissões.
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Nenhuma revolução verdadeira poderá nunca ser feita pelos homens, porque os que estão no Poder querem conservar as coisas como estão, e os que estão afastados do Poder querem simplesmente alcançá-lo. O rebelde masculino é uma farsa: esta sociedade é sua, pertence-lhe, fê-la ele para satisfação dos seus desejos. Mas ele não pode sentir-se satisfeito, porque não é capaz disso. No fim de contas, o macho que se rebela, rebela-se sempre contra a mesma coisa: contra o seu ser masculino.
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O amor não pode florescer numa sociedade baseada no dinheiro e no trabalho sem sentido; pelo contrário, para que o amor floresça exige-se liberdade econômica e pessoal, tempo disponível, oportunidade de nos deixarmos envolver em atividades emotivamente satisfatórias, que, uma vez partilhadas entre pessoas que se respeitam, podem conduzir a uma amizade profunda. Mas a sociedade não fornece, praticamente, nenhuma oportunidade desse gênero.
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O sexo é o refúgio dos estúpidos. Quanto mais privada de aparelho mental for a mulher, quanto mais integrada estiver na "cultura" masculina, por outras palavras, quanto mais graciosa for, mais sensual é. As mulheres mais graciosas da nossa "sociedade" são maníacas sexuais.
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O sexo não é parte de um relacionamento; pelo contrário, é uma experiência solitária, não-criativa, uma grande perda de tempo. A fêmea pode facilmente – mais facilmente do que ela pode imaginar – afastar seu impulso sexual, deixando-se completamente tranqüila e cerebral e livre para perseguir atividades e relacionamentos verdadeiramente valiosos; mas o macho, que parece gostar sexualmente das mulheres e que procura excitá-las constantemente, estimula a fêmea altamente-sexual a frenesis de luxúria, atirando-a num abismo de sexo do qual poucas mulheres escapam. O macho lascivo excitou a fêmea sensual; ele precisa fazê-lo – quando a mulher transcende seu corpo, eleva-se acima do animalismo, o homem, cujo ego constitui-se de seu pênis, desaparecerá.
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Muitas mulheres, mesmo assumindo a completa igualdade econômica entre os sexos, prefeririam viver com homens ou mascatear suas bundas na rua para ter a maior parte do seu tempo para si próprias, em vez de perder muitas horas dos seus dias fazendo trabalhos tediosos, embrutecedores, não-criativos para alguma outra pessoa, funcionando como máquinas, ou na melhor das hipóteses – se forem capazes de conseguir um "bom" emprego – co-administrando o monte de merda. Portanto, o que vai libertar as mulheres do controle masculino é a total eliminação do sistema dinheiro-trabalho, não a obtenção de igualdade econômica com os homens dentro desse sistema.
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Depois da eliminação do dinheiro não haverá mais necessidade de matar os homens; eles serão despojados do único poder que têm sobre as mulheres psicologicamente independentes. Uma vez que os homens sejam afastados do poder, nós estaremos livres para progredir com o trabalho de curar o mundo. Todos os trabalhos sem sentido serão automatizados, deixando as mulheres livres para fazer coisas como achar curas para todas as doenças. Bebês serão produzidos em laboratórios, porque nenhuma mulher, uma vez libertada, vai querer ser uma "égua reprodutora".
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Por que há de haver gerações futuras? Com que finalidade? Quando tivermos eliminado o envelhecimento e a morte, por que havemos de continuar a reproduzir-nos? Que importância tem o que possa acontecer depois da nossa morte? Por que deveríamos nos importar que não haverá geração mais jovem para suceder-nos?
O Mundo das Mulheres
"A humanidade da mulher... virá à luz quando ela houver se desvinciliado das convenções da mera feminilidade nas mutações de seu status externo; e os homens que ainda não a sentem aproximando-se hoje ficarão surpresos e chocados com ela. Algum dia... algum dia haverá meninas e mulheres cujos nomes já não significarão apenas o oposto do masculino, e sim algo próprio, algo que leve as pessoas a pensar não em alguma forma de complemento e de limite, mas somente na vida e na existência: o ser humano feminino."
Rainer Maria Rilke, “Letters to a young poet”
Você pode imaginar um mundo no qual mulheres não são consideradas triviais e desprezíveis, um mundo em que mulheres não são mutiladas, abusadas, exploradas, rebaixadas e diminuídas antes mesmo de nascermos, em que mulheres não sofrem ataques nem ameaças constantes simplesmente por existirem e onde todas são livres para ser elas mesmas, desenvolver suas potencialidades, realizar seus próprios projetos e viver seus sonhos?
Façamos de conta que estamos numa sociedade avançada, uma civilização acolhedora e segura, dirigida pelas mulheres. Nosso bem-estar e nossas necessidades materiais nos são garantidos, são nossos direitos de nascença. Nós temos liberdade, tempo e oportunidade de nos empenharmos nas mais diversas atividades que desejamos e somos livres para expandir e explorar os limites de nossas ideias e habilidades pessoais, que são valorizadas e compartilhadas com alegria com as demais. Ninguém é isolada ou excluída da participação social e vivemos num ambiente belo e sustentável onde as doenças estão praticamente erradicadas e a população equilibrada pela reprodução controlada completamente por nós mesmas. O cuidado e responsabilidade pelas crianças que nascem é dividido entre o grupo de mulheres mais próximo a elas. Os avanços científicos e tecnológicos tornaram os homens totamente desnecessários e nós podemos observar de nossas belas construções aqueles que ainda existem, se pavoneando e se apaixonando e desapaixonando uns pelos outros, como os homens sempre fazem. Também podemos ver em museus os registros históricos das glorificações e mistificações de suas guerras, violências, arrogâncias e sofrimentos, fósseis de suas sociedades agora obsoletas.
Você consegue pensar no que você gostaria de fazer se vivesse num mundo como este? Com que se pareceria sua vida nessa sociedade? Como seriam suas relações com as outras pessoas? O que gostaria de aprender e conhecer? Quais seriam seus planos, sonhos e realizações?
"Quando falamos de um futuro feminino, nós estamos falando de algo que uma vez existiu e que tem sido deliberadamente e com total malícia subjugado e controlado por meios tão violentos que nenhuma existência não agressiva poderia esperar resistir. Nós estamos falando aqui do poder das mulheres, sentido por toda mulher em algum momento de sua vida, aquela força vital afirmativa, revigorante, tremendamente rica... mesmo que nós não possamos saber se um futuro feminino salvaria o mundo, nós não temos nada a perder agindo como se ele salvaria."
Sally Miller Gearhart, “The Future, If There's One, Is Female”
"Houve um tempo em que não eras escrava, lembra-te disso. Um tempo em que caminhavas sozinha, alegre, em que banhavas-te com o ventre nu. Dizes que perdeste toda e qualquer lembrança desse tempo, recorda-te... Dizes que não há palavras que descrevam esse tempo, podes dizer que ele não existe. Mas lembra-te. Faze um esforço e recorda-te... Ou... Se não o conseguires, inventa!"
Monique Wittig, “Les Guerrilleres”
Um Teto Todo Seu
A vida em ambos os sexos – e eu a observei, abrindo seu caminho ao longo do pavimento – é árdua, difícil, uma luta perpétua. Ela exige coragem e força gigantescas. Acima de tudo, talvez, criaturas da ilusão como somos, ela exige autoconfiança. Sem autoconfiança somos como bebês no berço. E como podemos gerar esta qualidade imponderável, ainda que tão valiosa, o mais rapidamente? Através de pensar que as outras pessoas são inferiores a nós. Através de sentir que temos uma superioridade inata que pode ser riqueza, posição, um nariz afilado ou um retrato de um avô pintado por Romney, pois não há fim para os recursos patéticos da imaginação humana... Daí a importância enorme para um patriarca que tem que conquistar, que tem que dominar, de sentir que um grande número de pessoas, metade da raça humana de fato, são, pela sua natureza, inferiores a ele. Deve, na realidade, ser uma das principais fontes do seu poder... As mulheres durante todos estes séculos serviram de espelhos possuindo o poder mágico e delicioso de refletir uma imagem do homem com o dobro do seu tamanho natural. Sem esse poder, provavelmente, a terra seria ainda pântano e selva. As glórias de todas as guerras seriam desconhecidas. Estaríamos ainda arranhando os contornos de cervos nos restos de ossos e trocando pederneiras por peles de carneiro ou qualquer outro ornamento simples que agradasse ao nosso gosto sem sofisticação. O Super Homem ou o Dedo do Destino nunca teriam existido. O Czar e o Kaiser nunca teriam portado suas coroas ou as perdido. Qualquer que possa ser sua utilidade em sociedades civilizadas, espelhos são essenciais a toda ação violenta e heróica. Eis porque tanto Mussolini quanto Napoleão insistem tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois se elas não fossem inferiores, eles pararariam de engrandescer-se. Isso serve para explicar, em parte, a indispensável necessidade que as mulheres tão freqüentemente representam para os homens. E serve para explicar como eles ficam inquietos quando colocados sob a sua crítica, como é impossível para ela dizer-lhes que este livro é ruim, este quadro é fraco, ou o que quer que seja, sem causar mais dor ou despertar mais ira que um homem que fizesse a mesma crítica. Pois, se ela começa a dizer a verdade, a figura no espelho encolhe, sua aptidão para a vida é diminuída. Como pode ele continuar a passar julgamentos, a civilizar nativos, a fazer leis, escrever livros, arrumar-se todo e discursar em banquetes, a menos que possa ver a si mesmo no café da manhã e no jantar com pelo menos o dobro do tamanho que realmente é?
Virginia Woolf, "A Room of One's Own".
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