terça-feira, 23 de novembro de 2010
Um Teto Todo Seu
A vida em ambos os sexos – e eu a observei, abrindo seu caminho ao longo do pavimento – é árdua, difícil, uma luta perpétua. Ela exige coragem e força gigantescas. Acima de tudo, talvez, criaturas da ilusão como somos, ela exige autoconfiança. Sem autoconfiança somos como bebês no berço. E como podemos gerar esta qualidade imponderável, ainda que tão valiosa, o mais rapidamente? Através de pensar que as outras pessoas são inferiores a nós. Através de sentir que temos uma superioridade inata que pode ser riqueza, posição, um nariz afilado ou um retrato de um avô pintado por Romney, pois não há fim para os recursos patéticos da imaginação humana... Daí a importância enorme para um patriarca que tem que conquistar, que tem que dominar, de sentir que um grande número de pessoas, metade da raça humana de fato, são, pela sua natureza, inferiores a ele. Deve, na realidade, ser uma das principais fontes do seu poder... As mulheres durante todos estes séculos serviram de espelhos possuindo o poder mágico e delicioso de refletir uma imagem do homem com o dobro do seu tamanho natural. Sem esse poder, provavelmente, a terra seria ainda pântano e selva. As glórias de todas as guerras seriam desconhecidas. Estaríamos ainda arranhando os contornos de cervos nos restos de ossos e trocando pederneiras por peles de carneiro ou qualquer outro ornamento simples que agradasse ao nosso gosto sem sofisticação. O Super Homem ou o Dedo do Destino nunca teriam existido. O Czar e o Kaiser nunca teriam portado suas coroas ou as perdido. Qualquer que possa ser sua utilidade em sociedades civilizadas, espelhos são essenciais a toda ação violenta e heróica. Eis porque tanto Mussolini quanto Napoleão insistem tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois se elas não fossem inferiores, eles pararariam de engrandescer-se. Isso serve para explicar, em parte, a indispensável necessidade que as mulheres tão freqüentemente representam para os homens. E serve para explicar como eles ficam inquietos quando colocados sob a sua crítica, como é impossível para ela dizer-lhes que este livro é ruim, este quadro é fraco, ou o que quer que seja, sem causar mais dor ou despertar mais ira que um homem que fizesse a mesma crítica. Pois, se ela começa a dizer a verdade, a figura no espelho encolhe, sua aptidão para a vida é diminuída. Como pode ele continuar a passar julgamentos, a civilizar nativos, a fazer leis, escrever livros, arrumar-se todo e discursar em banquetes, a menos que possa ver a si mesmo no café da manhã e no jantar com pelo menos o dobro do tamanho que realmente é?
Virginia Woolf, "A Room of One's Own".
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