"A humanidade da mulher... virá à luz quando ela houver se desvinciliado das convenções da mera feminilidade nas mutações de seu status externo; e os homens que ainda não a sentem aproximando-se hoje ficarão surpresos e chocados com ela. Algum dia... algum dia haverá meninas e mulheres cujos nomes já não significarão apenas o oposto do masculino, e sim algo próprio, algo que leve as pessoas a pensar não em alguma forma de complemento e de limite, mas somente na vida e na existência: o ser humano feminino."
Rainer Maria Rilke, “Letters to a young poet”
Você pode imaginar um mundo no qual mulheres não são consideradas triviais e desprezíveis, um mundo em que mulheres não são mutiladas, abusadas, exploradas, rebaixadas e diminuídas antes mesmo de nascermos, em que mulheres não sofrem ataques nem ameaças constantes simplesmente por existirem e onde todas são livres para ser elas mesmas, desenvolver suas potencialidades, realizar seus próprios projetos e viver seus sonhos?
Façamos de conta que estamos numa sociedade avançada, uma civilização acolhedora e segura, dirigida pelas mulheres. Nosso bem-estar e nossas necessidades materiais nos são garantidos, são nossos direitos de nascença. Nós temos liberdade, tempo e oportunidade de nos empenharmos nas mais diversas atividades que desejamos e somos livres para expandir e explorar os limites de nossas ideias e habilidades pessoais, que são valorizadas e compartilhadas com alegria com as demais. Ninguém é isolada ou excluída da participação social e vivemos num ambiente belo e sustentável onde as doenças estão praticamente erradicadas e a população equilibrada pela reprodução controlada completamente por nós mesmas. O cuidado e responsabilidade pelas crianças que nascem é dividido entre o grupo de mulheres mais próximo a elas. Os avanços científicos e tecnológicos tornaram os homens totamente desnecessários e nós podemos observar de nossas belas construções aqueles que ainda existem, se pavoneando e se apaixonando e desapaixonando uns pelos outros, como os homens sempre fazem. Também podemos ver em museus os registros históricos das glorificações e mistificações de suas guerras, violências, arrogâncias e sofrimentos, fósseis de suas sociedades agora obsoletas.
Você consegue pensar no que você gostaria de fazer se vivesse num mundo como este? Com que se pareceria sua vida nessa sociedade? Como seriam suas relações com as outras pessoas? O que gostaria de aprender e conhecer? Quais seriam seus planos, sonhos e realizações?
"Quando falamos de um futuro feminino, nós estamos falando de algo que uma vez existiu e que tem sido deliberadamente e com total malícia subjugado e controlado por meios tão violentos que nenhuma existência não agressiva poderia esperar resistir. Nós estamos falando aqui do poder das mulheres, sentido por toda mulher em algum momento de sua vida, aquela força vital afirmativa, revigorante, tremendamente rica... mesmo que nós não possamos saber se um futuro feminino salvaria o mundo, nós não temos nada a perder agindo como se ele salvaria."
Sally Miller Gearhart, “The Future, If There's One, Is Female”
"Houve um tempo em que não eras escrava, lembra-te disso. Um tempo em que caminhavas sozinha, alegre, em que banhavas-te com o ventre nu. Dizes que perdeste toda e qualquer lembrança desse tempo, recorda-te... Dizes que não há palavras que descrevam esse tempo, podes dizer que ele não existe. Mas lembra-te. Faze um esforço e recorda-te... Ou... Se não o conseguires, inventa!"
Monique Wittig, “Les Guerrilleres”
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