segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Caixa de Pandora

Caixa de Pandora é uma expressão utilizada para designar qualquer coisa que incita a curiosidade mas que é preferível não ser estudada ou revelada, pois pode vir a mostrar algo terrível, que possa fugir de controle (como quando se diz que "a curiosidade matou o gato"). Tem origem no mito grego da primeira mulher, Pandora que, contra as indicações que lhe tinham dado, teria aberto uma caixa (uma jarra ou ânfora, de acordo com diferentes traduções) onde se encontravam todos os males que desde então se abateram sobre a humanidade, ficando apenas a esperança no fundo do recipiente. Existe algumas semelhanças entre o mito de Pandora com o mito judaico-cristão de Adão e Eva onde a mulher é, não somente considerada inferior como também uma ameaça constante ao homem e a responsável pela desgraça do gênero humano.

"Durante um longo período de tempo, por toda a feliz Idade de Ouro, só existiram homens à superfície da terra, não havia mulheres. Zeus criou-as apenas respondendo com o seu rancor a todos os cuidados que Prometeu tivera para com o homem. (...) Zeus criou então algo de muito perigoso, algo que deleitava os olhos pela suavidade e pela beleza, com o aspecto de uma donzela tímida a quem todos os deuses concederam dons, vestes prateadas e um véu todo bordado, uma autêntica maravilha. Chamaram-na Pandora, que significa "a dádiva de todos"; depois de terminada esta bela calamidade, Zeus mostrou-a a todos e, ao contemplarem-na, tanto os Deuses como os homens ficaram extasiados. É dela - a primeira mulher - que descendem todas as outras mulheres, que são a desgraça dos homens e que têm propensão para praticar o mal." (Edith Hamilton, A Mitologia)

Mas existe um mito anterior ao de Adão e Eva que foi suprimido na Bíblia cristã: a história de Lilith, a primeira mulher, o arquétipo da mulher livre e insubmissa que se rebelou contra a inferiorização imposta pelo patriarcado.

A Lenda Esquecida de Lilith


Lilith é uma figura referida na Cabala e também aparece no Talmud Judaico e nos Manuscritos do Mar Morto. No folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira esposa do bíblico Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por causa de uma disputa, chegando depois a ser descrita como um demônio. De acordo com certas interpretações da criação humana em Gênesis, no Antigo Testamento, reconhecendo que havia sido criada por Deus com a mesma matéria prima, Lilith rebelou-se, recusando-se a ficar sempre em baixo durante as suas relações sexuais. Assim dizia Lilith: “Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.”

Adão se recusou a aceitar essa igualdade, insistindo em que Lilith deveria se deitar debaixo dele e argumentando que ele era superior a ela. Lilith não quis se submeter, visto que ambos haviam sido criados da mesma forma, e abandonou o Éden. Adão então foi queixar-se a Deus, dizendo: “Soberano do Universo! A mulher que o Senhor me deu foi embora, fugiu.” Ele então mandou três anjos no encalço dela, dizendo a Adão: “Se ela concordar em voltar, o que foi feito é bom. Se não, ela deverá permitir que uma centena de seus filhos morram a cada dia.”

A partir daí, Lilith foi demonizada, pois ela se recusou a voltar.

O fato de que uma mulher que se recusou a ser submissa ao marido tenha sido transformada em demônio nos mitos não surpreende, mas não deixa de ser curioso o fato de que existem vestígios da história dela na Bíblia, os quais teriam sido expurgados quase por completo.

Na primeira página do Gênesis versículo 27 está escrito que: "Deus criou o homem e a mulher." porém na segunda página versículo 18: “O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada.” e é apenas no versículo 22 da segunda página que Eva é criada: “E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem”. É muito possível que na primeira página a mulher criada seja Lilith.

Lilith pode ter sido retirada da Bíblia durante o Concílio de Trento, a interesse da Igreja Católica, para reforçar o papel das mulheres como devendo ser submissas, e não iguais, aos homens. Porém ela é muitas vezes retratada como a serpente que tentou Eva a comer o fruto do conhecimento.

Com o ressurgimento das religiões pagãs, Lilith foi resgatada da categoria de demônio, embora esse resgate tenha ficado circunscrito à determinadas tradições, como a Bruxaria e a Wicca.

Nessas tradições, Lilith não é um demônio mas uma poderosa deusa primordial referida como a deusa escura, que representa o poder da mulher. Poder não sobre o outro ou sobre as coisas, mas sobre si mesma – o poder de ser ela mesma, de saber fazer com que seu espaço e seu lugar sejam respeitados, de se expressar e viver da maneira que seja mais apropriada para ela, sem se submeter à condições abusivas ou mandatos culturais. O poder de ser livre.

Eu danço a minha vida para mim mesma
Sou inteira
Sou completa
Digo o que penso
E penso o que digo
Eu danço a escuridão e a luz
O consciente e o inconsciente
O sadio e o insano
E falo por mim mesma
Autênticamente
Com total convicção
Sem me importar com as aparências
Todas as partes de mim
Fluem para o todo
Todos os meus aspectos divergentes tornam-se um
Eu ouço
O que é preciso ouvir
Nunca peço desculpas
Sinto os meus sentimentos
Eu nunca me escondo
Vivo a minha sexualidade
Para agradar a mim mesma
E agradar aos outros
Expresso-a como deve ser expressa
Do âmago do meu ser
Da totalidade da minha dança
Eu sou fêmea
Sou sexual
Sou o poder
E era muito temida.

Amy Sophia Marashinsky em “O Oráculo da Deusa”.


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