sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Hetero-Patriarcado
O patriarcado sancionou como paradigma da normalidade social, psíquica e linguística o contrato (hetero)sexual: para se erigir a si mesmo como Sujeito o varão tem de construir a mulher como o Outro (quer dizer, desalojar as mulheres em direção à alteridade e mantê-las nessa posição). Nesta construção dicotômica o homem representa tanto o pólo positivo quanto o neutro e a mulher é somente o pólo negativo, mas também obviamente um signo exclusivamente heterossexual. A dualidade homem/mulher exclui a lésbica, torna-a impossível.
“Não é segredo que o medo e o ódio de homossexuais permeia a nossa sociedade. Mas o desprezo por lésbicas é distinto. Ele é diretamente enraizado na aversão à mulher autodefinida, a mulher autodeterminada, a mulher que não é controlada pela necessidade, imperativo, ou manipulação masculinas. Desprezo por lésbicas é mais frequentemente um repúdio político às mulheres que organizam-se em seu próprio interesse para conseguir presença pública, poder significante, integridade visível.”
Andrea Dworkin
O poder masculino se utiliza de inúmeros métodos para forçar a heterossexualidade às mulheres e mantê-las heterossexuais. Estes métodos formam um conjunto de forças que se estende desde a violência física até o controle de consciência, a fim de assegurar o direito masculino de utilização física, econômica e emocional das mulheres e assim sustentar o domínio do patriarcado. Entre os meios de coação, estão o o abuso sexual e o terrorismo das mulheres pelos homens – que são mantidos quase como que imperceptíveis e tratados como inevitáveis e naturais –, e logicamente, a invisibilização da possibilidade da lesbianidade.
“A suposição de que ‘a maioria das mulheres é naturalmente heterossexual’ coloca-se como um obstáculo teórico e político para muitas mulheres. Ela permanece como uma suposição convincente, parcialmente porque a existência lésbica tem sido escrita fora da história ou catalogada na categoria de doença; parcialmente porque ela tem sido tratada como excepcional em vez de intrínseca; parcialmente porque reconhecer que para mulheres a heterossexualidade pode não ser uma ‘preferência’ de qualquer maneira, mas algo que tem de ser imposto, controlado, organizado, propagado e mantido pela força é um passo imenso a tomar se você se considera livremente e ‘naturalmente’ heterossexual. Ainda a incapacidade de considerar a heterossexualidade como uma instituição é como a incapacidade de admitir que o sistema econômico nomeado capitalismo ou o sistema de casta do racismo é mantido por um conjunto de forças que compreendem tanto a violência física quanto a falsa consciência. Tomar o passo de questionar a heterossexualidade como uma ‘preferência’ ou ‘escolha’ para mulheres – e efetuar o trabalho intelectual e emocional que segue – chamará por uma qualidade especial de coragem em feministas identificadas heterossexualmente, mas eu penso que as recompensas serão grandes: uma libertação do pensamento, a exploração de novos caminhos, a quebra de um outro grande silêncio, nova clareza nas relações pessoais.” Adrienne Rich, "Heterossexualidade Compulsória e Existência Lésbica"
“Sem o abuso (hetero)sexual, o assédio (hetero)sexual e a (hetero)sexualização de cada aspecto dos corpos e comportamentos femininos, não haveria patriarcado, e qualquer outra forma ou materialização da opressão que possa existir, elas não teriam os contornos, limites e dinâmicas do racismo, nacionalismo, e assim por diante, que nos são familiares agora.
[...]
Uma parte vital de fazer o domínio masculino generalizado tão próximo do inevitável quanto uma construção humana pode ser é a naturalização da heterossexualidade feminina. Os homens têm criado ideologias e práticas políticas que naturalizam a heterossexualidade feminina continuamente em cada cultura desde o aparecimento dos patriarcados.
[...]
A heterossexualidade feminina não é um impulso biológico ou uma atração erótica ou conexão individual de uma mulher com outro animal humano que por acaso é macho. A heterossexualidade feminina é um conjunto de instituições e práticas sociais definidas e reguladas por (costumes, valores e leis patriarcais).”
Marilyn Frye, Willful Virgins: Essays In Feminism, 1976-1992 – Willful Virgins or Do You Have to Be a Lesbian to Be a Feminist?, Crossing Press, 1992, pp. 130-132
“Heterossexualidade é um costume obstinado no qual as instituições supremacistas masculinas asseguram sua própria perpetuação e controle sobre nós. As mulheres são conservadas, mantidas e contidas através do terror, violência e spray de sêmen. É proveitoso para nossos colonizadores confinar nossos corpos e alienar-nos de nossos próprios processos vitais, assim como foi proveitoso para os europeus escravizar os povos africanos e destruir toda memória de uma liberdade prévia e autodeterminação. Assim como a fundação do capitalismo ocidental dependeu do tráfico de escravos no Atlântico Norte, o sistema de dominação patriarcal se sustenta pela sujeição das mulheres através de uma heterossexualidade obrigada, compulsória. Sendo assim, os patriarcas têm de cultuar o par homem-mulher como algo 'natural', afim de manter as mulheres (e os homens) heterossexuais e obediantes, da mesma maneira que o europeu teve que criar o culto da superioridade caucasiana para justificar a opressão dos povos africanos. Frente a esse pano de fundo, a mulher que elege ser lesbiana vive perigosamente.” Cheryl Clarke, "Lesbianismo, um ato de resistência" in This Bridge Called My Back: Writing by Radical Women of Color
O amor por si mesma e por outras mulheres ainda é a maior afronta que alguém pode realizar frente ao mundo patriarcal. O amor entre mulheres e a lealdade feminina em todos os âmbitos são as maiores fontes de regeneração, empoderamento e união contra o (hetero)patriarcado e sua estratégia de dividir as mulheres para dominar. No contexto do (hetero)patriarcado, a lesbianidade compõe um complexo de resistências às várias formas de violência da dominação masculina e é um meio ideológico, político e filosófico de libertação de todas as mulheres da tirania heterossexual. Segundo Adrienne Rich, o ato de escolher uma amante ou companheira de vida representa um ataque direto e indireto à heterossexualidade institucionalizada que invisibiliza a possibilidade lésbica e garante o acesso masculino às mulheres. Mas para que a decisão erótica da lesbianidade complete seu conteúdo político em uma forma liberadora até as últimas consequências, ela deve aprofundar-se e expandir-se em uma identificação feminina consciente: um feminismo lésbico.
É fundamental que entendamos o feminismo lésbico em seu sentido mais profundo e radical, como é o amor por nós mesmas e por outras mulheres, o compromisso com a liberdade de todas nós, que transcende a categoria de “preferência sexual” e a de direitos civis, para voltar-se à uma política de formular perguntas de mulheres, que lutam por um mundo no qual a integridade de todas – não de umas poucas eleitas – seja reconhecida e considerada em cada aspecto da cultura.
Adrienne Rich, 1983.
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É fundamental que se saiba que quanto ao aspecto espiritual essas premissas ou conclusões são pertinentes de igual modo,que a figura feminina espiritual sempre foi conhecida como um símbolo coadjuvante,intercessor e que jamais se considerou a hipótese de divindade.O que vivemos é um mundo carente no mais extremo aspecto do amor materno divinal,fé que permeia pelo menos sutilmente na alma de cada ser.
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